MUTIRÃO

Mutirão Global pelo clima ganha reforço em Conferência da ONU, na Alemanha

Iniciativa apresentada em Bonn está conectando ações locais de adaptação ao clima numa rede mundial; embaixador brasileiro cita sucesso de ações de comunidades locais

Em Bonn, presidência da COP30 recebe reforço para Mutirão Global pelo clima — Foto: Rafa Neddermeyer / COP30
Em Bonn, presidência da COP30 recebe reforço para Mutirão Global pelo clima — Foto: Rafa Neddermeyer / COP30

O espírito do Mutirão Global pelo clima está ancorado pela importância das comunidades locais como atores-chave para soluções pelo clima e a transição com justiça social. A iniciativa da presidência da COP30 ganhou reforço no terceiro dia da Conferência dos Órgãos Subsidiários da UNFCCC, em Bonn, na Alemanha, nesta quarta-feira, 18/6. 

"A beleza do mutirão está na descentralização", afirmou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP do Brasil. "A força real vem das iniciativas autônomas, que surgem organicamente. É isso que torna esse esforço contra a mudança do clima tão poderoso – a energia das pessoas agindo por conta própria, mas em sintonia com um propósito maior", disse. 

O conceito está incorporado pela liderança brasileira nas negociações para transformar os compromissos climáticos em ações, na velocidade necessária para frear o avanço da crise do clima, por meio de uma estrutura que integra iniciativas locais, autônomas e colaborativas em um movimento global. 

"A criatividade em criar soluções que ainda não existem é justamente o que nos levou a compartilhar com o mundo o conceito do Mutirão", explicou Túlio Andrade, chefe de mobilização da COP30. "Temos muito a aprender com quem já está implementando ações concretas, tanto nas áreas urbanas quanto em territórios indígenas. Essa troca de saberes é fundamental para enfrentarmos os desafios climáticos de forma eficaz", disse. 

"Não se trata de reunir pessoas, mas de fortalecer o multilateralismo, conectar as negociações à realidade das populações e acelerar a implementação do Acordo de Paris". Andrade argumentou que a iniciativa pode criar um "ponto de virada positivo" ao integrar ações. "Quando unimos nossos esforços, nos tornamos mais que a soma das partes. O mutirão nos lembra de nossa humanidade compartilhada e do poder da ação coletiva para enfrentar a crise climática", concluiu. 

"A força real vem das iniciativas autônomas, que surgem organicamente. É isso que torna esse esforço contra a mudança do clima tão poderoso – a energia das pessoas agindo por conta própria, mas em sintonia com um propósito maior"
— ANDRÉ CORRÊA DO LAGO, embaixador e presidente da COP do Brasil

O projeto começou a ser co-criado durante a Panama Climate Week, onde participantes discutiram formas de engajar comunidades e organizações. Em Bonn, o Brasil e parceiros como o Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS); a Fundação Iswe e o Visão Coop lançaram protótipos de plataformas digitais que irão conectar ações locais ao Mutirão. 

Ação climática viável 

Em 2013, minha casa foi destruída pelas enchentes e me senti impotente - até ver minha comunidade se unir para limpar casas e garantir água e comida aos desabrigados", relatou Fabricia Sterce, cofundadora da Visão COOP. A ativista descreveu como a experiência a levou a criar, em 2020, uma brigada comunitária que já mobilizou jovens e apoiou mais de 10 mil pessoas. 

“Não se trata de caridade, mas de ação climática viável — o que fazemos sozinhos em um bairro pode regenerar ecossistemas inteiros se for escalonado. Temos as soluções, mas precisamos de quem nos ajude a ampliá-las. Juntos, somos a solução climática — cada mão, cada recurso e cada conhecimento conta", indicou. 

Governança climática transformadora

Rich Wilson, CEO da Iswe Foundation, pontuou que o poder das comunidades locais deve ser o centro da resposta climática global. Com uma história pessoal marcada pela superação de desafios em uma comunidade rural no País de Gales, Wilson enfatizou que a verdadeira inovação está em criar plataformas que conectem e amplifiquem as soluções já desenvolvidas por quem vive na linha de frente das mudanças climáticas. 

"Não se trata de impor modelos de cima para baixo, mas de reconhecer e fortalecer o conhecimento prático das comunidades que há anos enfrentam esses desafios. A conexão entre iniciativas locais pode gerar um efeito exponencial no enfrentamento da crise climática. Quando damos voz e ferramentas a quem já está agindo, criamos uma governança climática verdadeiramente transformadora", concluiu.