TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Empresas do setor elétrico aumentam meta de investimentos em redes de energia limpa para US$148 bi por ano

Na COP30, Alemanha, Reino Unido, sete fundos multilaterais e outras instituições endossaram compromisso com princípios para fortalecer investimentos em modernização de sistemas pela transição energética

Foto: Rafa Neddermeyer/COP30
Foto: Rafa Neddermeyer/COP30

Por Laura Marques e Fabiana Otero/COP30

A Aliança de Empresas de Serviços Públicos para Emissões Líquidas Zero (Uneza, na sigla em inglês) anunciou, nesta sexta-feira, 14/11, na COP30, a ampliação da meta de investimentos em sistemas de transmissão e armazenamento de energia renovável de US$117 bilhões para US$148 bilhões por ano. Dessa forma, a coalizão de 73 membros prevê um pipeline de projetos de US$1 trilhão até 2030. A iniciativa reúne as principais concessionárias e empresas de serviços públicos do setor elétrico do mundo, com o objetivo de promover soluções de energia limpa.

Durante o evento realizado na Zona Azul, os governos da Alemanha e do Reino Unido, sete fundos multilaterais e outras instituições endossaram o relatório elaborado pela Green Grids Iniciative “Princípios de Financiamento Climático para Redes”. O documento aponta que as regras atuais de financiamento climático excluem mais de 60% dos projetos de redes de armazenamento e transmissão energética do mundo. A análise traz soluções para que as abordagens passem a reconhecer o papel catalisador que os investimentos em redes podem desempenhar na descarbonização de regiões dominadas por combustíveis fósseis e em economias em transição.

Os países e instituições que endossaram o documento são: Reino Unido, Alemanha, GIZ (Agência Alemã de Cooperação Internacional), KfW (Banco de Desenvolvimento da Alemanha), Banco Africano de Desenvolvimento, Investimento Internacional Britânico, Banco de Desenvolvimento da África Oriental, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Iniciativa de Títulos Climáticos (Climate Bonds Initiative), Grupo de Investidores Institucionais para a Ação Climática, Grupo Asiático de Investidores para a Ação Climática, Aliança Global de Energias Renováveis, GridWorks e Uneza.

Desafios e oportunidades

O Campeão de Alto Nível do Clima da COP30, Dan Ioschpe, frisou que, embora as ações para garantir geração de energia renovável estejam avançando rapidamente, o desafio agora é garantir eficiência e resiliência das redes e do armazenamento e distribuição. De acordo com ele, os investimentos nestes sistemas cresceram apenas 9% em 2024, e há uma lacuna significativa de financiamento. “Se conseguirmos alinhar capital, capacidade e colaboração, poderemos acelerar essa transição juntos. Não como uma obrigação, mas como a maior oportunidade econômica de nossa geração”, sublinhou.

Assim como o campeão climático, diversos palestrantes reforçaram que grande parte das redes de energia existentes no mundo são compatíveis com tecnologias de geração do século passado e precisam de modernização para fortalecer o uso de renováveis. 

“Se não financiarmos redes e flexibilidade, a velocidade e a escala da transição ficarão comprometidas”, alertou o diretor-geral da Agência Internacional para as Energias Renováveis, Francesco La Camera.

A coordenadora-geral da Agenda de Ação na Presidência da COP30, Bruna Cerqueira, exaltou as iniciativas anunciadas e fez um chamado pela implementação. “Apreciamos o fato de que muitos apoiaram as medidas, mas o que queremos é continuar esse trabalho ao longo do tempo. Isso não pode ser apenas um evento na COP. Queremos consistência”.

O secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento do Brasil, Gustavo Ataíde, informou que o país está implementando um dos ciclos de expansão de transmissão de energia mais ambiciosos de sua história. Entre as iniciativas previstas está a instalação de uma linha de Corrente Contínua em Alta Tensão de 2.500 quilômetros com 3 gigawatts de capacidade e novas interconexões internacionais. “Essas iniciativas mostram que construir redes modernas, resilientes e preparadas para energias renováveis é possível quando planejamento, instituições e financiamento estão alinhados. O mundo precisa avançar do impulso político para um progresso concreto, especialmente na ampliação de soluções de armazenamento e na duplicação dos investimentos em redes até 2030”, reforçou.