AGENDA COP30

Diretora do GCF defende uma nova abordagem para alcançar o 1,3 trilhão de dólares para clima

Mafalda Duarte pontua que o desafio da COP30 é colocar em prática os acordos para o clima e pensar novas formas de incentivo ao financiamento climático

Mafalda Duarte, diretora do Fundo Verde para o Clima, reforça que financiamento climático precisa de mais agentes para avançar — Foto: Rafa Neddermeyer / COP30
Mafalda Duarte, diretora do Fundo Verde para o Clima, reforça que financiamento climático precisa de mais agentes para avançar — Foto: Rafa Neddermeyer / COP30

Por Mayara Souto | COP30

"Se nós queremos resultados diferentes, temos que fazer as coisas de forma diferente", resumiu Mafalda Duarte, diretora executiva do Fundo Verde para o Clima (GCF, na sigla em inglês), sobre o financiamento climático. Para ela, o desafio da COP30 de angariar 1,3 trilhão de dólares para colocar em prática ações contra a mudança do clima, passa por pensar novas formas de incentivo financeiro. Entre eles, os fundos verdes.

"O grande desafio do Brasil é gerar a vontade política e o entendimento político de que é necessário encontrar outros novos instrumentos que permitam, basicamente, mobilizar os recursos públicos que são necessários para que se alavanque o setor privado", explicou ainda Duarte, em entrevista exclusiva ao site da COP30.

"É necessário os recursos públicos, mas não vão ser os orçamentos de estado que vão conseguir financiar esse trilhão de dólar. Vai ter que ser o setor privado"
— Mafalda Duarte, diretora executiva do Fundo Verde para o Clima 

Neste sentido, os fundos verdes são uma maneira de utilizar ambas formas de orçamento para apoiar iniciativas que promovam tanto a mitigação, quanto a adaptação climática. O Fundo Verde do Clima, por exemplo, é o maior fundo do tipo no mundo - com investimentos em mais de 130 países e uma carteira de 18 bilhões de dólares.

“Em instituições como o Fundo Verde do Clima, nós funcionamos como essa função catalítica. O setor ou privado pode fazer determinadas coisas, mas chega a um ponto em que já não podem fazer. Porque os riscos são muito elevados, porque os custos de capital são muito elevados, porque não podem dar um financiamento a longo prazo. Temos um papel fundamental em todo este ecossistema de financiamento climático e de apoio aos países em desenvolvimento”, destacou a diretora executiva do Fundo. 

Duarte explica que a preocupação com esses países ainda é a principal pela vulnerabilidade frente aos eventos extremos causados pela mudança do clima. Isso ocorre porque há, ainda, um baixo investimento em infraestrutura.

"É preciso compreender muito bem porque é que esse gap de investimentos em infraestrutura é crítico. Os investimentos em infraestrutura que se fazem duram 30, 40, 50 anos. Nós não podemos permitir que esses novos investimentos em infraestrutura sejam de alto carbono e não resilientes", comentou a diretora. 

Outro ponto também foi destacado por Duarte como um problema que precisa de resolução: o de incluir as comunidades nos debates climáticos. A COP30, por exemplo, criou o Círculo dos Povos, para incluir as demandas dos territórios indígenas nas negociações climáticas.

“Historicamente o que acontece no financiamento de clima e também no financiamento de apoio ao desenvolvimento é que grande parte dos fundos não chegam às comunidades locais, aos mais vulneráveis, aqueles que estão mais expostos. Inclusive por causa disso, há todo um esforço, por exemplo, a nível internacional de princípios do que se chama locally led adaptation. Ou seja, que esforços de adaptação sejam liderados localmente. Tudo isso é um reconhecimento da realidade, de que não temos feito o suficiente para que o financiamento chegue”, lamentou. 

Encontro

A diretora executiva do Fundo Verde para o Clima, Mafalda Duarte, esteve reunida, nesta terça-feira, 16/7, com o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, e a CEO da COP30, Ana Toni. Na reunião, foi debatido como o fundo pode se aliar à agenda de ação da COP30.

Ana Toni, CEO da COP30, e o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, receberam a diretora do Fundo Verde para o Clima para debater diversidade no financiamento climático — Foto: Rafa Neddermeyer / COP30
Ana Toni, CEO da COP30, e o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, receberam a diretora do Fundo Verde para o Clima para debater diversidade no financiamento climático — Foto: Rafa Neddermeyer / COP30

"Nós discutimos não só o que podíamos trazer para a COP 30, como também o que estamos já fazendo no Brasil, até este momento, e aquilo que pretendemos fazer no Brasil nos anos futuros. E como é que nós podemos aprender das experiências que já tivemos e das soluções que estão a ser implementadas e pensar a um nível muito maior de ambição", contou Mafalda Duarte.

O presidente da COP30 celebrou a visita da representante do Fundo Verde para o Clima e relembrou a importância dele na história do financiamento climático - já que foi fruto da COP16, em 2010. 

"O fundo verde do clima foi um sonho ao longo de vários anos dos países em desenvolvimento, que era realmente de criar um fundo que tivesse como prioridade as prioridades dos países em desenvolvimento. Então, demorou vários anos para a gente negociar do fundo verde do clima. E, agora, com a liderança da Mafalda Duarte, estamos vendo uma evolução muito positiva e também uma maior aceleração no fornecimento dos recursos e também um esforço muito grande para obtenção de recursos adicionais", disse o embaixador André Corrêa do Lago.