Boletim COP30 Brasil #67 - Unidade continental e busca por justiça financeira marcam Cúpula do Clima da África, em Adis Abeba, na Etiópia
A segunda Cúpula do Clima da África, em Adis Abeba, reuniu na abertura mais de 45 chefes de Estado que defenderam a justiça climática e apresentaram soluções próprias do continente. África e Brasil ressaltaram laços históricos e o potencial africano em energia renovável. O desafio é transformar promessas globais em financiamento real e acessível. Ouça a reportagem e saiba mais.

Reportagem: Leandro Molina / COP30
Repórter: Unidade e justiça financeira marcaram a abertura da segunda Cúpula do Clima da África, realizada em Adis Abeba, na Etiópia. O encontro reuniu mais de 45 líderes do continente e milhares de pessoas para reforçar compromissos climáticos e propor soluções próprias.
Em tom de solidariedade, o presidente designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, destacou os laços históricos e humanos entre Brasil e África, e apresentou as três prioridades da conferência que será realizada em Belém: fortalecer o multilateralismo climático, aproximar as negociações da vida real e acelerar a implementação do Acordo de Paris.
Corêa do Lago: O mundo precisa lutar contra a mudança do clima pela África, porque a contribuição africana para o aquecimento global é absolutamente mínima
Repórter: O posicionamento brasileiro dialoga com a mensagem central dos líderes africanos. O presidente do Quênia, William Ruto, lembrou que a cúpula de Nairóbi, em 2023, reposicionou a África como um poder no cenário global; mas alertou para o risco de retrocessos.
William Ruto: Com frequência, os compromissos são quebrados e a solidariedade internacional é descartada como fraqueza, justamente quando a magnitude da crise climática exige uma cooperação reforçada. A isolação não é uma estratégia. É uma falha.
Repórter: A busca por financiamento em escala adequada foi ponto comum nas falas. O presidente da Comissão da União Africana, Mahmoud Ali Youssouf, apresentou dados que reforçam o pedido por justiça climática.
Ali Youssouf: A África contribui com apenas 4% das emissões de gases de efeito estufa. O valor de US$ 1,3 trilhão é o montante necessário por ano para financiar os planos de adaptação às mudanças climáticas no continente. O que está sendo proposto para a África são US$ 300 bilhões para financiar planos de mitigação com base em investimentos do setor privado. Isso está longe de ser suficiente.
Repórter: Entre as soluções apresentadas, o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, destacou iniciativas nacionais como o programa Green Legacy, que já plantou 48 bilhões de árvores, e a construção de uma barragem capaz de gerar 5 mil megawatts de energia renovável.
Ahmed Ali: Não estamos aqui para negociar a nossa sobrevivência. Estamos aqui para desenvolver o mundo do próximo clima. A África pode ser o primeiro continente a industrializar sem destruir seus ecossistemas.
Repórter: A ministra etíope de Planejamento e Desenvolvimento, Fitsum Assefa, destacou o papel do continente na busca por soluções próprias para a crise climática.
Fitsum Assefa: Nos próximos três dias, deliberaremos não apenas sobre questões relacionadas mudança do clima, mas também sobre como podemos moldar uma década africana de entrega, por meio do financiamento e do desenvolvimento resiliente e verde da África.
Repórter: A Cúpula do Clima da África apresentou três demandas principais à comunidade internacional: reformar a arquitetura financeira global, acelerar a implementação do fundo de perdas e danos acordado na COP27 e investir em soluções africanas já existentes.