BOLETIM DE RÁDIO COP30 BRASIL

Boletim COP30 Brasil #78 - Pre-COP define que a missão da COP30 é sair do papel e implementar ações

Encontro realizado em Brasília, que reuniu mais de 70 países, mostrou que a COP30, terá foco em colocar acordos em prática. O Brasil lidera pelo exemplo com resultados ambientais e propostas de financiamento para nações em desenvolvimento. Ouça a reportagem especial e saiba mais.

A Pre-COP, que reuniu representantes de mais de 70 países, em Brasília, deixou um legado explícito: a COP30, em Belém, precisa ser a COP da Verdade - Foto: Rafa Neddermeyer/COP30
A Pre-COP, que reuniu representantes de mais de 70 países, em Brasília, deixou um legado explícito: a COP30, em Belém, precisa ser a COP da Verdade - Foto: Rafa Neddermeyer/COP30

Reportagem: Inez Mustafa | COP30 Brasil

Repórter: A Pre-COP, que reuniu representantes de mais de 70 países, em Brasília, deixou um legado explícito: a COP30, em Belém, precisa ser a COP da Verdade, como disse o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva na ONU. E se você está se perguntando o que isso significa na prática, nós temos a resposta vindo direto dos protagonistas das negociações. A mudança de mentalidade já começou, e o novo lema é a implementação. Quem confirma essa mudança de chave é o Presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago.

André Corrêa do Lago: Qual é a diferença com as outras COPs? É que nesta nós estamos declarando que é uma COP de implementação. E a implementação não precisa de consenso. É um exercício muito mais de cooperação, de apoio de uns a outros.

Repórter: E o Brasil chega para essa nova fase com resultados concretos nas mãos.  Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram uma revolução silenciosa em curso: queda de 98% nas queimadas do Pantanal, 80% na Amazônia e 42% no Cerrado, no acumulado do ano de 2025, o menor patamar desde 1998. São números que mostram que é possível reverter a curva da destruição; mas como transformar essas conquistas em um caminho sem volta? A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, explica por que implementar é mais complexo do que parece.

Marina Silva: Porque nós vamos implementar o que foi decidido. E, olhando para o que foi decidido, é preciso que a gente vá estabelecendo também alguns indicadores de que estamos no caminho da implementação. O Brasil, particularmente, tem bons indicadores.

Repórter: E nos bastidores da Pre-COP, esse espírito de "mãos à obra" já era realidade. Ana Toni, CEO da COP30, revela os consensos que emergiram das discussões, entre os mais de 600 participantes do evento.

Ana Toni: Acho que na sessão, por exemplo, sobre clima e natureza, ficou muito claro que tem consenso, que são necessários novos instrumentos econômicos para a valorização da natureza.  Então foi muito bom ouvir esse consenso.

Repórter: E o Brasil chega à COP30 com uma das propostas mais ambiciosas: o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). Diferente de outros fundos climáticos, ele é um mecanismo inovador que pretende mobilizar 25 bilhões de dólares, para remunerar mais de 70 países em desenvolvimento pela conservação de suas florestas tropicais. E as discussões já saem do papel. Mostrando que lidera pelo exemplo, o Brasil anunciou um investimento de 1 bilhão de dólares no fundo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que lidera o Círculo de Ministros com mais de 35 países, destacou que o objetivo é transformar teoria em ação.

Fernando Haddad: A continuidade está no compromisso de alinhar reflexão e implementação, garantir que as discussões conceituais produzidas no Círculo se traduzam em propostas concretas de política pública, muitas das quais já estão em curso em paralelo.

Repórter: Mas essa transformação não é apenas tarefa dos governos. Dan Ioshpe, Campeão Climático da COP30, destacou o poder da sociedade como um todo nesse processo, que já mobiliza mais de 3.000 empresas comprometidas com neutralidade climática globalmente.

Dan Ioshpe: O Climate Champions Team teve muita honra e satisfação de trabalhar em conjunto para de fato acelerar e escalar o mais rápido possível as soluções que a gente precisa para atingir os objetivos do Acordo de Paris.

Repórter: E escalar soluções exige ouvir quem sempre esteve na linha de frente da proteção ambiental. Segundo dados da organização Climate Policy Institute, o desequilíbrio do financiamento climático é evidente: em 2023, a mitigação recebeu 640 bilhões de dólares, enquanto a adaptação climática, que protege populações vulneráveis, ficou apenas com 63 bilhões de dólares. Essa falta de recursos deixa 3,6 bilhões de pessoas em alta vulnerabilidade climática.

É justamente para corrigir essa distorção que ganha importância a Rota de Baku à Belém. A iniciativa, que constrói uma ponte entre as COPs 29 e 30, tem como uma de suas metas centrais expandir o financiamento para adaptação, garantindo que os países em desenvolvimento recebam os recursos necessários para se preparar. E esse princípio de justiça é defendido pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

Sonia Guajajara: A gente traz o complemento: uma transição justa que inclua as pessoas, que escute as pessoas, que considere essas distintas realidades. 

Repórter: Transição justa, financiamento, adaptação e implementação. Com propostas concretas como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre e a Rota de Baku à Belém, os aprendizados da Pre-COP mostram que a COP30 não será um ponto de chegada, mas sim o grande ponto de virada que o mundo espera. 

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