Boletim Especial COP30 Brasil - Enviados especiais destacam a importância de “fazer adaptação impulsionando a mitigação” na COP30
Na Conferência, os países debaterão os Planos Nacionais de Adaptação, que se mostram cada vez mais necessários para enfrentar os impactos da crise climática. Os enviados especiais da COP30, André Guimarães e Sérgio Xavier, afirmam que há expectativa de mobilizar financiamento climático para ações de resiliência. Ouça a reportagem especial e saiba mais.

Texto e locução: Mayara Souto / COP30
Repórter: Você já ouviu falar de adaptação e mitigação? Esses nomes podem parecer estranhos, mas estão muito presentes no nosso dia a dia e vão estar no centro dos debates na COP30. Principalmente, a adaptação. De uma forma muito simples, mitigar é tentar conter os impactos da mudança do clima. Já adaptar é pensar ações para lidar com os efeitos que já são sentidos.
André Guimarães, agrônomo e enviado especial da COP30 com foco na Sociedade Civil dá um exemplo concreto desses conceitos.
André Guimarães: A agricultura brasileira, que é um exemplo no mundo inteiro, 90% da nossa agricultura não é irrigada. Então, a gente depende de ciclo natural de chuva. Esses ciclos estão afetados pela mudança do clima. E não vão voltar atrás mais. Então, a gente vai ter que se adaptar a uma nova condição de clima. Então, eu sou um fazendeiro, eu plantava a soja em outubro, colhia ela em janeiro, plantava o milho na sequência, colhia o milho em março, plantava capim e botava boi. Então, o cara planta três safras. A distribuição de chuva hoje não está dando mais nem para segunda safra. Então, o cara vai ter que plantar aquela primeira safra, vai ter que usar mais tecnologia, para produzir mais, para poder compensar um pouco da perda que ele está tendo, porque a chuva não está se estendendo mais para a segunda e para a terceira safra.
Repórter: Nesse exemplo que o André traz, mitigar seria pensar como reduzir a emissão de gases do efeito estufa que afeta diretamente o ciclo das chuvas. Já adaptar é usar tecnologias como a irrigação. E é nesse sentido que a mitigação e adaptação estão conectadas.
André Guimarães: Quando a gente começou a discutir clima, ali nos meados dos anos 90, 94, 95, quando estavam acontecendo ali as primeiras COPs do clima, a ciência achava ainda naquele momento, há 30 anos, que a gente ainda conseguiria estabilizar as emissões de carbono e reduzi-las numa velocidade mais rápida do que nós estamos fazendo hoje. A gente conseguiria mitigar, ou seja, a gente conseguiria reduzir os impactos climáticos. O tempo foi passando, as soluções não foram acontecendo na velocidade que deveriam. Então, começou-se a falar de adaptação também. Então, hoje nós estamos diante de um duplo desafio. Há situações em que a gente, sim, ainda consegue mitigar os impactos da mudança climática. Então, se a gente agir rápido, por exemplo, talvez a gente consiga mitigar o fogo, por exemplo, a degradação de florestas. Mas na maioria dos casos nós vamos ter que nos adaptar, ou seja, nós já cruzamos um limite.
Repórter: Na COP30, os países deverão apresentar os Planos Nacionais de Adaptação. Eles definirão as ações de resiliência de cada país. Os chamados “NAPs” são similares às Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs, que atuam na mitigação.
Sérgio Xavier, coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima e enviado especial da COP30, explica o que se espera desses documentos.
Sérgio Xavier: É fundamental fazer adaptação impulsionando também a mitigação, ou seja, transformando os modelos econômicos que hoje emitem muitos gases de efeito estufa, modelos que degradam o meio ambiente. Não basta adaptar somente as consequências, os sintomas, os problemas e esquecer do que causa isso.
O que se espera desses planos dos países, em relação à adaptação, é que faça tudo simultaneamente, que adapte as cidades, adapte os territórios para ficarem mais resilientes, mas, sobretudo, adaptem o que causa toda essa fragilidade, essa vulnerabilidade ambiental, que são exatamente os processos econômicos.
Repórter: Sérgio comenta que as ações de adaptação são bem complexas, mas necessárias.
Sérgio Xavier: Uma cidade que tem previsão de chuvas extremas e que não tem drenagem, ela precisa ser adaptada para que haja uma condição dessas águas de chuvas muito intensas serem drenadas adequadamente. Cidades que estão em lugares muito quentes, como no sertão nordestino, onde ondas de calor vão ficar cada dia mais intensas, precisam ter escolas com ar-condicionado, precisa ter mais árvores, precisa ter mais conservação de recursos hídricos.
Repórter: O financiamento de projetos como os que foram citados está entre os principais alvos de negociação durante a COP 30, já que será necessário mobilizar recursos públicos, privados e internacionais, principalmente, para os países em desenvolvimento, como detalha André Guimarães.
André: A adaptação tem algumas dimensões dela. Inexoravelmente ela é cara e vai custar mais caro ainda, relativamente, para países que não tem grana. Por isso, que a COP30, ela vem cercada de muitas expectativas em relação ao TFFF, em relação à rota Baku-Belém, 1,3 trilhões. É uma situação que de fato a gente está pagando pela inação de 30 anos. É mais fácil e mais barato prevenir do que remediar. A gente não fez o dever de casa, não fizemos a mitigação quando estava na hora, não fizemos a prevenção, agora estamos tendo que remediar, e remediar é mais caro.
Repórter: André comenta que, mesmo com tamanho desafio na adaptação e mitigação, há otimismo no papel do Brasil nas negociações da COP30.
André: Para mim não existe outro país que poderia liderar esse novo ciclo da humanidade, um ciclo de sustentabilidade, um ciclo de harmonia com a natureza, se não for o Brasil.
Repórter: Esse foi o boletim especial COP30 sobre a importância da mitigação e adaptação climática nas negociações que ocorrerão em Belém. Novas edições trarão mais informações sobre o que se espera da COP30 e os temas que devem ser discutidos na Conferência em novembro.