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Boletim COP30 Brasil #31 - Boletim COP30 Burkinidi, minka e balu wala: conheça variações do ‘mutirão’ chamado pela COP30

O mesmo termo escolhido pela presidência da Conferência para chamar a comunidade internacional para ações contra a mudança do clima se traduz em linguagens indígenas e africanas. Ouça a reportagem e saiba mais.

Diferentes nacionalidades e etnias mostraram a força e diversidade do mutirão proposto pela presidência da COP 30 para frear a mudança do clima - Fotos: Isabela Castilho / COP30
Diferentes nacionalidades e etnias mostraram a força e diversidade do mutirão proposto pela presidência da COP 30 para frear a mudança do clima - Fotos: Isabela Castilho / COP30

Reportagem: Mayara Souto / COP30 Brasil
Locução: Bárbara Bezerra

Repórter: De origem tupi-guarani, o termo “mutirão” foi adotado pela presidência da COP30 como lema  para chamar a comunidade internacional à ação climática. Durante a Semana do Clima do Panamá foi possível ouvir a  palavra em  diversos sotaques e identificá-la em outras culturas – principalmente, nas indígenas e nas africanas. 

Eric Terena, ativista indígena do Mato Grosso do Sul, responsável por apresentar o termo durante o Fórum de Implementação, no evento da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, diz que o mutirão é realizado de maneiras diferentes em diversas partes do mundo.

Eric Terena: O povo indígena considera a palavra mutirão como essa mobilização local, comunitária, que se realiza desde quando a gente é criança, seja dentro da comunidade, seja fora, pelo direito indígena, em prol do direito comunitário. O mutirão é feito, em diversas partes do mundo, de maneiras diferentes – seja pela educação, saúde, pelo  meio ambiente. 

Repórter: Mesmo dentro do Brasil, o termo se apresenta em diferentes regionalismos, como destaca Hannah Balieiro, diretora executiva do Instituto Mapinguari.

Hannah Balieiro: Na  região amazônica, nós usamos uma palavra que tem uma ideia similar a da palavra  mutirão,  que é o “puxirum”, que também traz essa ideia coletiva de trazer força para realizar uma atividade grandiosa que precise de muitas mãos para ser construída, assim  como   subir uma laje, plantar uma roça, construir uma casa de alguém. 

Repórter: No encontro com outros países latino-americanos, o reconhecimento também é visível, como aponta Andrés Mogro, gerente de Programa do Clima da Fundação Avina do Equador.

Andrés Mogro: Ele explica que o termo  mutirão  se parece com a palavra  espanhola  ‘minga’, falada  na região andina, e que , por sua vez, vem da palavra quéchua (etnia indígena andina) ‘minka’, que significa trabalho coletivo. Normalmente, se utiliza na área  rural, onde várias pessoas se unem em um trabalho voluntário, pelo bem da comunidade.

Repórter: A ativista indígena do Panamá, Jacobed Solano, diz que no seu idioma mutirão pode significar, no contexto da COP,  união entre pessoas e  a terra.

Jacobed Solano: Ela conta que o povo gunadule adota a palavra ‘balu wala’ que significa ‘árvore de sal’, e que pode ser traduzida para a ideia de que  podemos colaborar juntos para fazer justiça climática, onde todos estão incluídos. Não somente as pessoas, mas também a terra.  

Repórter: As culturas africanas também encontram significado na ideia de cooperação por um bem comum, como ressalta a princesa Abze Djigma, líder tradicional de Burkina Faso, na África Ocidental.

Abze Djigma: Ela disse que é possível fazer um paralelo entre a palavra mutirão e “burkinidi”, que significa que você precisa colocar integridade, humanismo, humildade e altruísmo no seu comportamento, seja no trabalho ou na sua vida pessoal. Isso quer dizer que somos todos um ecossistema, estamos interconectados e somos interdependentes.

Repórter: Diosmar Filho, doutor em geografia e pesquisador sênior da Associação de Pesquisa Iyaleta, sobre a cultura da África Central, diz que mutirão representa cuidar da terra como casa pública.

Diosmar Filho: A gente poderia convidar para um pensamento diaspórico africano e chamar de boko, na cosmovisão bantu, que significa uma casa pública. Então podemos chamar o mutirão de uma casa pública porque nós precisamos cuidar da terra como nossa casa pública. 

Repórter: A expressão "mutirão global" foi adotada nas cartas da  presidência brasileira da COP30. Nos documentos, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, destaca a necessidade de uma resposta urgente e coordenada de todos os países para evitar um colapso ambiental e social.