Belém em obras: os 100 dias que antecedem a COP30
Ações coordenadas pelo Governo Federal com apoio do estado e da prefeitura já transformam a rotina da população

Por Maiva D’Auria | COP30
Faltando 100 dias para a COP30, Belém vive uma verdadeira transformação. Para preparar a cidade que será, em novembro de 2025, o centro das discussões climáticas globais, o Governo Federal, em parceria com o Governo do Pará e a Prefeitura de Belém, coordena uma ampla frente de investimentos e obras.
Para o Secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, a conferência em Belém representa um marco histórico. “É a primeira conferência climática das Nações Unidas sediada na Amazônia e o Brasil está mobilizado para garantir um encontro global à altura da urgência climática no mundo”.
Esse simbolismo vem acompanhado de investimentos estruturantes que ultrapassam R$ 4 bilhões e beneficiam diretamente a população local com obras de infraestrutura aguardadas há décadas. A COP também amplia oportunidades de emprego, movimenta setores como construção civil, hotelaria, transporte, turismo, alimentação, e projeta o protagonismo da Amazônia na agenda climática internacional, atraindo investimentos e parcerias estratégicas para o território.
O conjunto de convênios firmados para a realização da COP30 contempla mais de 40 intervenções nos eixos de infraestrutura urbana, mobilidade, hospitalidade, saneamento básico, drenagem, requalificação de estruturas existentes e implantação de sistemas tecnológicos.
O investimento total conta com recursos oriundos do Orçamento Geral da União, da Itaipu Binacional, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de contrapartidas estaduais e municipais, com foco em garantir que Belém esteja pronta para receber mais de 50 mil participantes (entre delegações oficiais, sociedade civil e imprensa), com segurança, conforto e infraestrutura de alto nível.
“Todas essas ações em Belém são mais do que preparar a cidade para um evento: é transformar realidades e cuidar das pessoas. Essas intervenções já fazem diferença no cotidiano. São bairros antes invisibilizados deixando de alagar, canais sendo limpos, ruas mais seguras e bem conectadas. Além disso, com a COP30, estamos colocando Belém no centro das discussões climáticas. Somos a porta de entrada do mundo para a Amazônia," destacou Hana Ghassan, vice-governadora do Pará.
Saneamento básico
Só em obras de macrodrenagem e saneamento básico em Belém, mais de 500 mil pessoas serão beneficiadas diretamente com os projetos em andamento. Isso representa mais de um terço da população da capital paraense, que hoje soma quase 1,4 milhão de habitantes.
Os projetos envolvem 13 canais estratégicos distribuídos por quatro bacias hidrográficas: Una, Tucunduba, Murutucu e Tamandaré. Desse total, 11 canais estão localizados em áreas periféricas.


As intervenções são fundamentais para reduzir os problemas de alagamento na cidade e promover melhor qualidade de vida, valorização imobiliária e novas áreas de lazer. As obras incluem coleta de esgoto, escoamento de águas pluviais, calçamento e ciclofaixas. Alguns contarão ainda com quiosques, ciclovias, academias ao ar livre, playgrounds, espaços pet e áreas verdes.
Segundo a arquiteta Naira Carvalho, da Secretaria de Obras do Estado do Pará, o conceito principal do projeto é "trazer sustentabilidade para uma área adensada dentro de Belém". Ela explica que as ações estão sendo feitas em espaços antes dominados apenas por concreto e asfalto, mas que agora poderão servir como espaço de convivência.
“A gente traz intervenção em uma área que era só concreto, canal retificado e asfalto. E hoje a gente tem uma média de 3 mil metros quadrados de área verde, com várias interferências de sustentabilidade.”
O Parque Linear Tamandaré, por exemplo, está com 87% das obras concluídas e contou com um investimento de R$ 162,8 milhões. Já o Parque Linear Nova Doca atingiu 92% de execução, com R$ 365,9 milhões alocados. A proposta é mudar a relação da cidade com seus canais.
“Convidamos as pessoas a olharem esse canal com outro olhar, não só como receptor de água, mas como um ambiente agradável e confortável. Queremos que as pessoas não apenas circulem, mas permaneçam e vivam o Parque da Doca”, enfatizou a arquiteta.
Complexo Ver-o-Peso
A reforma do Ver-o-Peso está orçada em R$ 72,6 milhões, incluindo R$ 12,4 milhões para o Sistema de Esgotamento Sanitário. O local vai contar com uma rede completa para a coleta e o tratamento do esgoto. Outra benfeitoria importante é a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Una, cuja implantação e recuperação fazem parte da estratégia de ampliação do saneamento básico em Belém. A ETE Una será uma das maiores do estado e vai promover a melhoria da qualidade ambiental da Bacia do Una.
A Feira do Ver-o-Peso passa por uma completa requalificação, com 194 trabalhadores envolvidos nas obras. A transformação inclui a substituição das coberturas de lona, o lixamento e pintura de todas as estruturas metálicas, a remoção e limpeza dos vidros dos lanternins, a troca do piso e a instalação de novos guarda-corpos. Além disso, está sendo realizada a dragagem do leito do Rio Guamá, na área onde funciona a Feira do Açaí.


Há 55 anos no coração do Ver-o-Peso, Maria dos Anjos Pacheco é um dos rostos mais conhecidos do mercado pelas famosas garrafadas/mandingas (líquidos caseiros feitos com a mistura de ervas, plantas e raízes). Ela cria esses produtos com ingredientes regionais, como andiroba, copaíba, mel de abelha e óleo de pracaxi. “Chora no meu pé”, “chega-te a mim” e “chama namorado rico” são apenas algumas das criações que atraem moradores e turistas.
Maria se anima ao falar das mudanças recentes no mercado. “Tenho que agradecer ao governo porque ele fez uma coisa boa para nós. Minha barraquinha estava caindo aos pedaços. Fomos levados para outro lugar por uns cinco meses enquanto arrumavam tudo, mas agora voltamos e to gostando da minha barraquinha nova. Estou muito feliz. E com essa COP chegando em novembro, vai ser sucesso para nossa mercadoria”, diz a vendedora, que já tem os filhos seguindo seus passos no comércio das ervas e que também tem suas barracas.
No Mercado do Peixe, para trazer mais modernização para a estrutura existente, as fachadas estão sendo pintadas, as telhas substituídas e a cobertura passando por uma limpeza completa. Está prevista ainda a substituição do piso interno, mantendo o mesmo padrão original, além da troca das bancadas por novas estruturas em aço inox, garantindo melhores condições de higiene e funcionalidade.
Bem ao lado, o Mercado da Carne também passa por modernização, com a substituição completa das instalações elétricas internas e a adoção de luminárias em LED. As instalações hidrossanitárias serão reestruturadas, com implantação de novas redes de água e esgoto, além da reforma dos banheiros. Toda a estrutura metálica e piso do local serão recuperados, a fachada revitalizada e os fornos internos serão requalificados.
Mercado São Brás
O Mercado Municipal de São Brás é um gigante urbano. Uma construção imponente de 114 anos de história! E após passar por uma completa reforma e restauração, foi a 1ª obra de infraestrutura entregue para a COP30. Com investimento de R$ 89,7 milhões, o projeto buscou preservar e recuperar as características originais da edificação, destacando sua relevância histórica e cultural para a cidade de Belém. Agora, o mercado contempla 207 permissionários, entre quiosques, boxes, restaurantes e espaços voltados exclusivamente para boieiras - mulheres tradicionais das feiras de Belém que servem comidas populares.


Jefferson Costa é natural de Belém, onde vive com sua esposa e seus dois filhos. O meteorologista tem aproveitado com sua família as melhorias realizadas na capital. “A infraestrutura por aqui já mudou, né, em algumas áreas. Tem que melhorar mais? Tem. Mas a gente percebe que nos últimos dois anos, Belém jamais teria esses investimentos se não tivéssemos a COP aqui”.
Ele confessa que, além de todas as benfeitorias, espera que a COP30 também deixe um legado ambiental, promovendo a conscientização da população sobre a urgência na mudança de hábitos que prejudiquem o meio ambiente. E deixa um convite:
"Venham conhecer o estado do Pará, que é imenso, tem 143 municípios. Cada município com a sua história e com a sua cultura”.
Pavimentação
Outro importante legado deixado pelas obras da COP para a população de Belém é a pavimentação asfáltica de 279 vias, das quais 60 estão localizadas em regiões onde vive a população de baixa renda. Ao todo, são 88,72 quilômetros de vias recuperadas, distribuídas por 32 bairros e distritos do município da capital paraense.
Silvio de Oliveira, designer nascido na cidade Bragança, morador de Belém desde os 12 anos de idade, tem acompanhado de perto as obras em Belém para a COP30. Ele conta que já consegue ver muita coisa mudando, desde melhorias nas ruas, praças, espaços públicos, até investimentos em mobilidade e tecnologia. “São mudanças que vão muito além do evento. Acredito que tudo isso representa uma chance real de crescimento pro nosso estado. A COP30 trouxe e está trazendo um olhar diferente para nossa região, valorizando quem somos, nossa cultura e a importância da Amazônia”.
Na opinião de Silvio, o visual da Nova Doca e do Parque da Cidade são de “encher os olhos”, mas é no dia a dia que ele sente os efeitos mais imediatos das obras. “Apesar dos transtornos, algumas intervenções já começam a impactar, principalmente na melhoria das vias e do transporte público. Com menos buracos e ruas mais organizadas, o deslocamento diário fica mais rápido e seguro. Isso facilita tanto pra mim quanto pra minha família, seja para trabalhar, estudar ou até passear”.


Ao ser questionado sobre o que tem achado de todas as intervenções, ele não titubeia: “Geralmente penso em expectativa. É a sensação de que algo novo está surgindo, que aquela mudança pode melhorar o lugar, a vida das pessoas, a infraestrutura. Claro, junto vem também um pouco de preocupação, porque as obras podem atrasar, gerar transtornos ou não sair como planejado. Mas, no fundo, a esperança é o que mais prevalece, é acreditar que aquele esforço poderá trazer benefícios no futuro”.
Transporte
Outro grande investimento que tem beneficiado a população belenense é a refrota. O Governo Federal prevê a aquisição de 265 novos ônibus para o sistema do BRT Metropolitano. São 225 veículos a diesel com tecnologia Euro 6 (que emitem 15 vezes menos carbono que os modelos atuais), e 40 modelos elétricos, que além de não emitirem gases de efeito estufa, produzem baixo nível de ruído sonoro. Todos equipados com ar-condicionado e wi-fi. O investimento total ultrapassa R$ 368 milhões do Governo Federal, com contrapartida superior a R$ 19 milhões do Governo do Estado.
E terá, ainda, o BRT Centenário, uma extensão do BRT Belém, que deverá integrar a região do aeroporto e bairros próximos ao transporte rápido da cidade. A iniciativa também vai transformar a Avenida Júlio César, uma das principais portas de entrada para visitantes e turistas que chegam pelo Aeroporto Internacional de Belém. O projeto contempla obras estruturantes como terraplenagem, pavimentação, drenagem, sinalização viária, paisagismo, construção de estações de passageiros, passarelas, obras de arte especiais e ações de reurbanização.
Legado sustentável
Mais do que sediar um evento de escala global, Belém está sendo preparada para o futuro. As obras (com frentes federais, estaduais e municipais) fazem parte de uma estratégia para deixar um legado concreto para a cidade e seus moradores. Um compromisso real com a construção da COP30 como um marco histórico para o Brasil e para a Amazônia.