LEGADO COP30

Agenda de Ação tem estrutura inédita para avançar nos compromissos da COP

Dois esforços estruturais foram feitos na COP30 para acelerar a implementação do Acordo de Paris através da Agenda de Ação: alinhá-la ao Balanço Global, com foco no cumprimento das NDCs, e estabelecer uma Visão de Cinco Anos para orientar os próximos passos

Bruna Cerqueira, diretora da Agenda de Ação da COP30, aponta inovação brasileira ao projetar ações para os próximos cinco anos por parte dos atores que implementam o Acordo de Paris. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30
Bruna Cerqueira, diretora da Agenda de Ação da COP30, aponta inovação brasileira ao projetar ações para os próximos cinco anos por parte dos atores que implementam o Acordo de Paris. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30

A COP30 representou um momento de virada para a Agenda de Ação. Isso porque a presidência da COP30 a organizou visando dar continuidade e impacto global aos objetivos que vêm sendo construídos, com a contribuição do Brasil, desde a Eco-92 (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), quando surgiu a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Na COP30, em Belém, a Agenda de Ação ganhou ainda mais estrutura.

“A Agenda de Ação não é nova”, diz Bruna Cerqueira, diretora da Agenda de Ação da COP30. Ela foi criada como resposta ao Acordo de Paris, com a Parceria de Marrakech para a Ação Climática Global, na COP22, em 2016, para aumentar a ambição climática; acelerar a implementação de soluções já disponíveis, e dar visibilidade e coerência às iniciativas de ação climática de forma sistemática, e não apenas durante as conferências do clima.

A Agenda de Ação é aquele espaço dentro das Conferências das Partes (COPs), onde os atores que não negociam, mas são essenciais para a implementação. Eles se mobilizam e contribuem para tirar do papel os acordos feitos pelos negociadores. São representados pelo setor privado, os investidores, os governos subnacionais, sociedade civil e também todas as contribuições que os países querem voluntariamente liderar e implementar para além dos Acordos de Paris e de Kyoto, por exemplo.

A parceria é coordenada pelos Campeões de Alto-Nível do Clima, que são designados a cada ano, e funciona como o principal articulador da Agenda Global de Ação Climática no âmbito da Convenção do Clima.

“Esta COP fez duas propostas inovadoras,” explica Bruna. A primeira foi migrar de uma Agenda de Ação em que, a cada edição, as presidências criam entre 5 e 10 prioridades, que mudam a cada ano, para estruturar um processo que refletisse o resultado do primeiro Balanço Global do Acordo de Paris -  que avalia, a cada cinco anos, o progresso coletivo dos países no cumprimento das metas climáticas de mitigação, adaptação e meios de implementação. 

Desta maneira, o primeiro relatório, publicado em 2023, apontou lacunas e prioridades que precisam de atenção dos países. A partir disso, a  Agenda de Ação  da COP30 foi organizada em seis eixos: (1) Transição nos Setores de Energia, Indústria e Transporte; (2) Gestão Sustentável de Florestas, Oceanos e Biodiversidade; (3) Transformação da Agricultura e dos Sistemas Alimentares; (4) Construção de Resiliência em Cidades, Infraestrutura e Água; (5) Promoção do Desenvolvimento Humano e Social; (6) Facilitadores e Aceleradores: incluindo Financiamento, Tecnologia e Capacitação.

“A outra proposta que nós fizemos foi de mapear todas as iniciativas da Agenda de Ação destes últimos dez anos,” diz Bruna. “Identificamos 482 iniciativas globais que se somaram à Agenda de Ação e buscamos ampliar significativamente a colaboração em torno entre elas”, acrescentou a diretora da Agenda de Ação.

Ao longo desses seis meses, desde que foi lançada a estrutura em seis eixos, em junho, na Conferência de Bonn, até a COP30, essas iniciativas foram estimuladas a atuar com mais transparência e relatar os impactos efetivamente gerados. “Registramos um aumento de seis vezes no número de iniciativas que passaram a reportar seus resultados”, comemora Cerqueira.

A tarefa agora é garantir a continuidade desse espaço estruturado para que, ao chegar ao próximo Balanço Global, em 2028, seja possível mostrar o que os atores da Agenda de Ação fizeram, as soluções que trouxeram para a mesa e como aceleraram a implementação do Acordo de Paris.

“Ao longo do próximo ano, esperamos trabalhar muito próximo da presidência da COP31, com o nosso Campeão de Alto-Nível da COP30, Dan Ioschpe, e com a pessoa designada pela próxima presidência da COP para integrar essa equipe”, destaca Bruna.

Arquitetura Renovada para a Implementação

Ao imprimir uma nova ênfase nesta COP, que também foi reconhecida como a ‘COP da Implementação’, deseja-se assegurar que as soluções climáticas sejam coordenadas, monitoradas e ampliadas entre regiões e setores. Assim, se espera que cada nova declaração venha acompanhada de um plano claro e transparente de implementação. Essa abordagem estruturada e, ao mesmo tempo, flexível, se materializa na Visão de Cinco Anos da Agenda Global de Ação Climática.

O documento, lançado na COP30, estabelece um marco para orientar, entre 2026 e 2030, a aceleração da implementação do Acordo de Paris, em complementaridade ao processo formal de negociações. A Visão busca dar continuidade, foco e escala às soluções já existentes, alinhando a Agenda de Ação às prioridades do Balanço Global e aos ciclos de ambição e implementação das NDCs.

Os princípios que orientam essa Visão incluem: foco em implementação e impacto real; alinhamento com ciência e equidade; inclusão de diferentes regiões e atores; complementaridade com o regime multilateral; e aprendizagem contínua. Esses princípios garantem que a Agenda de Ação vá além de anúncios, priorizando entregas mensuráveis, soluções replicáveis e benefícios concretos para as pessoas.

A estrutura organizacional proposta fortalece o papel dos Campeões de Alto-Nível do Clima, da equipe que assessora os Campeões do Clia e dos atores vinculados à Parceria de Marrakech, com maior clareza de papéis, coordenação por eixos temáticos e conexão com iniciativas e coalizões existentes. O objetivo é reduzir a fragmentação, melhorar a coordenação global e apoiar a escalabilidade das soluções em diferentes contextos regionais e setoriais.

Por fim, a Visão define um ciclo anual de implementação, com prioridades claras, momentos de mobilização política, acompanhamento de entregas e balanços periódicos. A transparência é central e prevê relatórios regulares, comunicação clara de resultados, monitoramento de progresso e visibilidade de impactos para ampliar a credibilidade, o aprendizado coletivo e a confiança na Agenda de Ação como um pilar contínuo da implementação climática global.

Leia o documento na íntegra (disponível em Inglês): Visão de Cinco Anos da Agenda Global de Ação Climática.