URGÊNCIA

Adaptação será um dos temas centrais da COP30, diz André Corrêa do Lago

Presidente e CEO da COP30 participaram de debate sobre a centralidade do tema na conferência do clima da ONU. André Corrêa do Lago e Ana Toni destacam a urgência de políticas públicas e ações locais para enfrentar os impactos climáticos.

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, no evento “Adaptação Como Prioridade Para a COP30”  | Foto: APR2/Talanoa
André Corrêa do Lago, presidente da COP30, no evento “Adaptação Como Prioridade Para a COP30” | Foto: APR2/Talanoa

O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, afirmou que acelerar a adaptação à mudança do clima será um dos temas-chave da conferência que o Brasil realizará em novembro na cidade de Belém, no Pará. Durante evento em Brasília (DF), o embaixador destacou que os impactos da emergência climática já são sentidos e que o aumento da resiliência deve ser incorporado às políticas públicas dos países.

“No início, quando discutíamos adaptação, a maioria dos negociadores achava que se dedicar à adaptação significava abaixar os braços e desistir de mitigar", disse Corrêa do Lago no encerramento do evento “Adaptação como prioridade para a COP30", organizado pelo Instituto Talanoa.

Para o embaixador, a dimensão local de muitas medidas de adaptação dificulta a mobilização de financiamento internacional para aumentar a resiliência climática. Na frente de mitigação, o cenário é outro: um país que dá dinheiro para reduzir as emissões de gases-estufa em outro lugar do planeta também está ajudando a si próprio. 

Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima e CEO da COP 30 | Foto: Rogério Cassimiro/MMA
Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima e CEO da COP 30 | Foto: Rogério Cassimiro/MMA

“O que mudou imensamente? Os acontecimentos climáticos extremos estão chegando cada vez mais perto. O ano passado no Brasil foi assustador, e o que aconteceu em Porto Alegre explicou ao brasileiro a diferença da adaptação. Muito do que ocorreu poderia ter sido evitado se políticas de adaptação tivessem sido incorporadas à infraestrutura", declarou.

Adaptação será um tema forte nas negociações da COP30, com debates sobre indicadores globais para o tema, por exemplo. Mas também será parte importante da agenda de ação, que será fortalecida em Belém em grande parte devido aos limites das negociações e do cenário geopolítico, destacou Corrêa do Lago. 

As discussões trataram de temas como a necessidade de ações urgentes para aumentar a resiliência climática, promover a adaptação de forma justa e tratá-la como uma estratégia de desenvolvimento e transformação. Outro foco foi em financiamento para adaptação, incluindo o progresso do compromisso de dobrá-lo até 2025, e o roteiro Baku-Belém para US$ 1,3 trilhão de financiamento climático até 2035. 

Em painel com o enviado climático das Maldivas, Ali Shareef; a embaixadora da Irlanda, Fiona Flood; e o diretor da Iniciativa Internacional de Clima e Floresta da Noruega, Andreas Dahl-Jorgensen, a diretora executiva da COP30, Ana Toni, destacou que o Brasil pretende liderar pelo exemplo:

“Estamos fazendo 16 planos setoriais e a Estratégia Nacional de Adaptação no âmbito do Plano Clima, que guiará a política climática brasileira até 2035. Temos o Fundo Clima, lançamos o AdaptaCidades para ajudar governos subnacionais a terem seus próprios planos e projetos diretos. Nossa plataforma nacional terá uma seção inteira dedicada à adaptação", destacou Ana Toni. 

Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva | Foto: Fernando Donasci/MMA
Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva | Foto: Fernando Donasci/MMA

A COP30, destacou a diretora da conferência, terá quatro pilares: reunião de chefes de Estado, negociação, agenda de ação e engajamento e mobilização. O objetivo, completou, é que a adaptação seja abordada em todas essas frentes:

“Se queremos influenciar a COP30, precisamos pensar onde a adaptação, e especificamente o financiamento para adaptação, estará em cada um desses pilares", declarou. “Como presidência da COP30, estamos tratando do tema em cada uma dessas frentes e esperamos trabalhar em conjunto com muitos atores para planejar o processo até Belém”.

A abertura foi realizada pela ministra Marina Silva, que destacou que, independentemente das visões negacionistas, a mudança do clima já instalada e combatê-la demanda uma transformação do modelo de desenvolvimento e das formas de financiamento.

“Adaptação não é só a gente fazer recuperação de mata ciliar, buscar soluções baseadas na natureza. É adaptar também os investimentos: quais são as novas linhas de crédito, de pensar seguros, de decretar emergência", disse a ministra. 

O evento reuniu representantes internacionais como a ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês, Patricia Espinosa, o chair do grupo africano de negociadores e enviado especial para o clima da Tanzânia, Richard Muyungi, e o assessor especial para Mudança do Clima do BID, Avinash Persaud; integrantes da sociedade civil como a co-presidente do caucus indígena, Sineia do Vale, e a diretora executiva da organização Argentina 1.5ºC, Pilar Bueno; e especialistas como o cientista Carlos Nobre e o economista Sergio Margulis.

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