Secretária defende “soluções estruturais” para combater negacionismo e desinformação climática
Iniciativas pela Integridade da Informação integram o Mutirão da COP30 e, pela primeira vez, passam a integrar os objetivos da Agenda de Ação, como resposta à desinformação climática

Por Mayara Souto / COP30
“O Brasil foi um dos primeiros países a abraçar a ideia da integridade da informação”, lembra Nina Santos, secretária-adjunta da Secretaria de Políticas Digitais da Presidência da República. O conceito garante que as pessoas tenham acesso à informação de qualidade no dia a dia, funcionando como uma resposta ao negacionismo e à desinformação.
Desde o G20, o tema tem sido debatido, especialmente no contexto dos impactos da mudança do clima. Agora, na COP30, que ocorrerá no próximo mês, em Belém (PA), ele retorna ao centro do debate internacional, integrado à Agenda de Ação.
A relevância do tema é respaldada por dados globais. O Global Risks Report 2024, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, apontou as condições climáticas extremas como o maior risco para a estabilidade global, seguidas pela disseminação de desinformação. O estudo identifica a desinformação como o risco mais grave para os próximos dois anos, representando uma ameaça à legitimidade de governos e à coesão social.
“Às vezes, quando a gente fala de combate à desinformação e de combate ao negacionismo, as pessoas pensam muito nos conteúdos individuais. Esse, porém, é um problema muito mais estrutural do que individual. Por isso, a gente precisa também pensar em soluções estruturais”, explica Nina Santos. Ela ressalta que o negacionismo climático tem crescido globalmente e faz parte de um processo mais amplo de tentativa de descredibilizar a democracia, a ciência e as instituições.
Nesse contexto, o Brasil lançou, em 2024, a Iniciativa Global pela Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima, que reúne a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), o governo do Brasil e outros seis países (Chile, Dinamarca, França, Marrocos, Reino Unido e Suécia). A coalizão propõe soluções concretas para enfrentar a desinformação e outras táticas que buscam atrasar e comprometer a ação climática.
“O Brasil trouxe esse tema como essencial no G20, no grupo de economia digital. Depois, para o BRICS, para o Mercosul e, agora, na COP, que vai se realizar aqui no Brasil, pela primeira vez, a gente vai ter integridade da informação como um tema na Agenda de Ação da COP”, detalha Nina Santos.
Brasil na vanguarda
Segundo a secretária-adjunta, o país tem se destacado como uma “liderança mundial” no tema, que inclui não apenas o combate à desinformação, mas também a regulação de plataformas e a educação midiática. “Essa ação estrutural que a gente precisa fazer para garantir que a gente tenha informação de qualidade circulando e, sobretudo, que as pessoas no seu dia a dia possam tomar decisões informadas”, acrescenta.
Nina Santos destaca que esse processo envolve educação e capacitação. “As pessoas precisam, cada vez mais, entender como é que a tecnologia funciona, como a informação se dissemina nesse ambiente e também como elas próprias podem fazer para checar uma informação, ver se é verdade, se aquele site realmente é um site oficial”, detalha, acrescentando que isso previne não só a desinformação, como também fraudes e golpes digitais.
Para financiar iniciativas que forneçam esse tipo de suporte, a aliança global criou um fundo sediado pela UNESCO, destinado a promover ações de pesquisa, jornalismo e comunicação estratégica que garantam informações de qualidade sobre a mudança do clima. O Brasil foi o primeiro país a contribuir, destinando US$1 milhão, sendo US$600 mil neste ano e US$400 mil no próximo.
Rumo à COP30
Na COP30, a Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima faz parte da Agenda de Ação, que convoca diversos atores sociais a se engajar na ação climática. A proposta da Presidência da COP30 é que essa mobilização forme um “mutirão” pelo clima e contribua na implementação dos acordos climáticos já estabelecidos.
Ao todo, a Agenda de Ação está organizada em seis eixos temáticos, que se desdobram em 30 objetivos-chave.O esforço está entre esses objetivos em um eixo transversal, que envolve diversas frentes de atuação. Foram aprovadas 123 iniciativas de 27 países sobre o tema para integrar o Celeiro de Soluções - portal criado para destacar iniciativas práticas que geram resultados concretos em relação aos 30 Objetivos-Chave da Agenda de Ação. As propostas incluem ferramentas práticas e pesquisas voltadas a fortalecer a qualidade e a confiabilidade da comunicação climática.
“Essas iniciativas são de governos, de organizações da sociedade civil, de movimentos sociais, de universidades. A gente está tentando reunir nesse Celeiro iniciativas de todos os tipos que possam servir um pouco como exemplo, como boas práticas de como é que a gente pode seguir adiante nesse debate de maneira complexa e entendendo também possibilidades de cooperação”, comenta Nina Santos.
A Integridade da Informação sobre a Mudança do Clima também integra a programação de dias temáticos da COP30. Nos dias 12 e 13 de novembro de 2025, painéis e debates ocorrerão na Zona Azul e Zona Verde da Conferência, reunindo especialistas, governos e sociedade civil para consolidar estratégias de combate à desinformação e fortalecer a implementação de políticas de integridade da informação em escala global.