Presidenta do mais antigo banco brasileiro defende unificação global do mercado de carbono
Tarciana Medeiros, CEO do Banco do Brasil, afirma que a instituição se prepara para tornar-se peça chave na implementação do mecanismo, uma das principais pautas do país na COP30

Por Tarciana Medeiros, presidenta do Banco do Brasil
Belém é uma cidade que chamei de lar por cerca de dois anos. Esta metrópole brasileira, com mais de um milhão de habitantes e localizada na região amazônica, receberá líderes internacionais em novembro para a Cúpula do Clima da ONU. À medida que os tomadores de decisão se reúnem pela primeira vez na maior floresta tropical do mundo, compartilhamos a responsabilidade de avançar soluções que protejam o meio ambiente e promovam inclusão social e econômica. Mercados de carbono integrados podem ser parte dessa solução.
Na COP30, o Brasil pretende apresentar uma proposta ambiciosa para alinhar os mercados globais de carbono, por meio da criação de uma coalizão voluntária que conecte os sistemas existentes de precificação de carbono. A regulamentação dos mercados de carbono também representa uma importante oportunidade de negócios.
A coalizão começaria estabelecendo um preço unificado do carbono para quatro setores industriais chave — aço, alumínio, cimento e fertilizantes — que, juntos, respondem por cerca de 20% das emissões globais de gases de efeito estufa.
Como presidente do Banco do Brasil, estou trabalhando para transformar a principal instituição financeira do país em um ator chave para o financiamento de carbono, oferecendo soluções integradas que vão desde a identificação e conexão de projetos sustentáveis até a facilitação da negociação de créditos de carbono. Nossa base de clientes, com 85 milhões de pessoas, e a liderança no agronegócio nos dá uma vantagem única, permitindo uma diligência prévia rigorosa e maior segurança nas transações.
O Banco do Brasil já está envolvido em cerca de 31 dos mais de 150 projetos de carbono atualmente em andamento no país, com foco em áreas como a agricultura de baixo carbono. Sob minha liderança, o banco está acelerando sua transformação digital.
Nossa tecnologia proprietária combina análise geoespacial, inteligência artificial e ciência de dados para localizar propriedades rurais com alto potencial tanto para a preservação ambiental quanto para o risco de desmatamento. Como resultado, o tempo de resposta para identificação de projetos elegíveis foi significativamente reduzido.
Essa nova solução baseia-se em metodologias internacionalmente reconhecidas, como o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) e a Agricultural Landing Management (ALM). Ela integra dados espaciais do MapBiomas, do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e base de operações de crédito voltado para agricultura de baixo carbono, permitindo uma classificação hierárquica das propriedades rurais.
Isso aprimora nossa capacidade de identificar clientes com terras estrategicamente localizadas e adequadas para iniciativas de crédito de carbono, ampliando tanto o impacto climático quanto o potencial econômico dos projetos apoiados pelo Banco do Brasil. Até o momento, mais de 35 mil hectares já foram incluídos no programa de ALM.
No total, o Banco do Brasil atualmente apoia projetos que conservaram 850 mil hectares de floresta nativa. Essa iniciativa marca um passo estratégico rumo à meta do banco de conservar ou reflorestar 1 milhão de hectares até o final deste ano, em alinhamento com nossos compromissos de sustentabilidade.
Agora, é o momento de assumir compromissos ousados para proteger nosso planeta e cuidar das pessoas. Juntos, podemos fazer mais.
Tarciana Medeiros é CEO do Banco do Brasil, instituição financeira de economia mista. Ela é a primeira mulher a presidir o maior e mais antigo banco do país, presente em mais de 80 países.
As opiniões expressas neste artigo são do próprio escritor. O conteúdo foi publicado originalmente na Fortune.
