Justiça climática só é possível com ampla participação da sociedade nos debates, destacam Enviados Especiais
Clemente Ganz e Denise Dora, que atuam nos temas de Sindicatos e Direitos Humanos e Transição Justa, frisam que discussões sobre mitigação e adaptação às mudanças do clima precisam englobar toda a sociedade e levar em consideração impactos sobre trabalhadores

Por Mayara Souto / COP30
“A justiça climática significa envolver todas as pessoas no enfrentamento da emergência climática e na transição para uma economia de baixo carbono”, destaca Clemente Ganz, Enviado Especial da COP30 para Sindicatos. No mesmo sentido, Denise Dora, Enviada Especial de Direitos Humanos e Transição Justa, acrescenta que, para avançar efetivamente numa ação climática igualitária é preciso que os debates sejam “democráticos”, garantindo a participação de diversas camadas sociais, como Estado, setor privado e sociedade civil.

Na continuação da série sobre os Enviados Especiais da COP30, os representantes da sociedade civil salientam a importância de vozes de organizações, comunidades e trabalhadores serem ouvidas na conferência, especialmente na Agenda de Ação.
"Para pensar a agenda do clima é indispensável estabelecer o diálogo com os movimentos, ONGs, institutos e universidades sob a perspectiva da defesa dos direitos fundamentais. E também precisamos fazer o movimento inverso, que é compartilhar com as comunidades nacionais e internacionais como a agenda de clima é a solução para muitos problemas”, ressalta Dora.
Ainda segundo a Enviada, a participação ampla é premissa para enfrentar as mudanças climáticas. “A justiça climática depende de informação, de participação, transparência e diálogo continuado entre os agentes públicos, as empresas, os movimentos e as organizações. Por muitas razões, mas fundamentalmente, porque a agenda do clima tem que ser democrática. Ela precisa ser permeada por diversas camadas de participação social”, enfatiza.
Transição justa

O Enviado Especial no tema Sindicatos chama atenção para o fato de que a classe trabalhadora enfrenta diretamente os impactos da mudança do clima, inclusive devido às ações adotadas em prol da mitigação, como a transição energética, que muda as estruturas de diversos setores da economia.
Clemente Ganz: “A classe trabalhadora é uma grande parte da sociedade altamente impactada pela mudança climática”.
Ele alerta que uma transição justa deve acontecer de forma "equilibrada", garantindo que trabalhadores e comunidades "não sejam prejudicados no processo de mudança para uma economia de baixo carbono”.
Expertise brasileira
Denise Dora vê no Brasil um grande potencial para liderar as discussões sobre transição justa. O país já é um dos mais avançados na transição energética, com 93% da energia elétrica produzida atualmente por fontes renováveis, ocupando uma posição privilegiada para compartilhar experiências e soluções para o resto do mundo.
A especialista frisa que o Brasil tem histórico de resiliência, de resolução de crises e de capacidade de pensar criativamente. Ela avalia que isso já está sendo empregado dentro da COP30, através da Agenda de Ação e do Celeiro de Soluções, que demonstram iniciativas já adotadas pela sociedade civil, os setores públicos e privados no enfrentamento à mudança do clima.
