TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Fontes renováveis de energia mantém vantagem de preço em relação aos combustíveis fósseis, confirma relatório do IRENA

Pesquisa lançada nesta semana indica números promissores quanto ao futuro da energia limpa. Brasil foi o país em desenvolvimento líder em adições de energia renovável em 2024

Os custos totais instalados para energia renovável diminuíram mais de 10% para todas as tecnologias entre 2023 e 2024 — Foto: Divulgação
Os custos totais instalados para energia renovável diminuíram mais de 10% para todas as tecnologias entre 2023 e 2024 — Foto: Divulgação

Inovações tecnológicas, cadeias de suprimentos competitivas e economias de escala. Esses são alguns dos fatores que impulsionaram as fontes renováveis de energia a continuarem sendo mais interessantes economicamente do que os combustíveis fósseis. A confirmação é do mais recente relatório da Agência Internacional para Energias Renováveis (na sigla em inglês, IRENA), o qual dá publiciza um estudo detalhado a partir de dados de 2024. 

Tendo em vista que 91% dos novos projetos de energia renovável comissionados no ano passado foram mais econômicos do que qualquer nova alternativa fóssil, o argumento econômico a favor dos renováveis se torna cada vez mais forte. De acordo com o relatório, as energias renováveis tanto competem em custo com os combustíveis fósseis como também oferecem vantagens adicionais ao reduzir a dependência dos mercados internacionais de combustíveis e ao melhorar a segurança energética.

“As renováveis já quase igualam os combustíveis fósseis em capacidade instalada global. E isso é só o começo. No ano passado, toda a nova capacidade energética instalada no mundo veio de fontes renováveis e em todos os continentes a expansão das renováveis superou a dos fósseis. O futuro da energia limpa não é mais uma promessa, é um fato”, destacou o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, no lançamento do documento, em Nova York (EUA).

Quem também prestigiou o lançamento e comentou os dados foi o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago. “Este documento demonstra que o combate à mudança do clima é, não somente uma oportunidade econômica, mas uma imensa oportunidade para melhorar a vida das pessoas e para criar empregos. Sempre temos que lembrar que a mudança do clima é um grande desafio, mas que a nossa reação é possível. Existem soluções, e esse relatório prepara as nossas discussões da COP30, como poucas coisas poderiam ser mais úteis”, colocou ele, que ainda considerou a pesquisa como histórica.

Outra pesquisa, lançada em abril, na Alemanha, em evento preparatório para a COP30, já contribuia para este entendimento, ao descrever que investir em energia limpa e eficiência energética aumenta a produtividade e a inovação, bem como que a apresentação e o posterior cumprimento de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) reforçadas pode não apenas evitar perdas econômicas significativas aos países, mas aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) global em cerca de 3% até 2050 e até 13% até 2100.

E o Brasil?

O país ficou em 4º lugar globalmente em adições de energia renovável em 2024, atrás apenas da China, dos Estados Unidos da América e da União Europeia, figurando assim, como o principal país em desenvolvimento nestas adições. A energia hidrelétrica ainda domina o cenário nacional, fornecendo mais de 50% da eletricidade, porém a  energia solar e eólica estão crescendo rapidamente no país.

Neste mercado, o Brasil continua líder global em custos, com energia eólica onshore a Custo Nivelado de Energia (na sigla em inglês, LCOE) baixo, em US$ 30/MWh, patamar similar ao da China. Um dado interessante, uma vez que a LCOE da energia solar fotovoltaica atingiu US$ 48/MWh no ano do estudo, o que representa competitividade em comparação com combustíveis fósseis. 

A nível global, a energia solar fotovoltaica foi, em média, 41% mais barata do que as alternativas fósseis mais baratas, enquanto os projetos de energia eólica onshore tiveram preços 53% mais acessíveis. 

Algumas conclusões do Relatório:

  • Marcos regulatórios estáveis e previsíveis são essenciais para reduzir riscos e atrair capital;

  • Mitigar riscos financeiros é central para ampliar as renováveis tanto em mercados maduros quanto emergentes;

  • Instrumentos como contratos de compra de energia (PPAs) são fundamentais para acessar financiamento acessível

  • Ambientes políticos estáveis e estruturas de aquisição claras e confiáveis são fundamentais para atrair investidores.

O relatório ainda aponta que regiões do Sul Global (Ásia, África e América do Sul) apresentam maior potencial renovável e melhores taxas de aprendizado, e assim, podem experimentar quedas mais acentuadas nos custos - isto, mesmo no dado cenário de crise do multilateralismo, o que impacta também debates sobre o clima. O IRENA não deixa de fazer apontamentos neste sentido, em que mudanças geopolíticas, incluindo tarifas comerciais, gargalos no fornecimento de matérias-primas e dinâmicas de fabricação representam riscos que podem elevar temporariamente os custos.