“Brasil não tem medo de discutir a transição energética”, diz Lula durante Cúpula do Clima
Durante sessão temática realizada nesta sexta-feira, 7/11, presidente do Brasil destacou liderança brasileira em uso de energias renováveis e elencou compromissos para transição energética

Por Rafaela Ferreira/COP30
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a liderança do Brasil em energias renováveis, em declaração foi feita nesta sexta-feira, 7/11, durante a segunda sessão temática da Cúpula do Clima de Belém. “O Brasil não tem medo de discutir a transição energética. Somos líderes nessa área há décadas. Ainda nos anos 1970, fomos o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis. 90% da matriz elétrica nacional provém de fontes limpa”, mencionou o presidente.
Segundo o líder brasileiro, no primeiro semestre de 2025, as fontes renováveis se tornaram a principal forma de geração de eletricidade no mundo, superando o carvão. Lula também reafirmou o pioneirismo do Brasil no desenvolvimento de motores flex e frisou a posição do país como o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis.
“Nossa gasolina tem 30% de etanol em sua composição e nosso diesel conta com 15% de biodiesel. O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para adoção nos setores mais desafiadores, como a indústria e os transportes”, salientou ao falar de alternativas sustentáveis.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pontuou como o investimento global em energia limpa atingiu dois trilhões de dólares, oitocentos bilhões a mais do que em combustíveis fósseis. Ele lembrou ainda que as energias renováveis são a fonte mais barata de nova eletricidade em quase todos os países.
“Elas [energias renováveis] estão impulsionando a prosperidade e capacitando comunidades que por muito tempo ficaram sem energia. Cada dólar investido em energias renováveis cria três vezes mais empregos do que um dólar investido em combustíveis fósseis – e os empregos em energia limpa já superam os empregos em combustíveis fósseis em todo o mundo. A revolução das energias renováveis chegou”, disse Guterres durante a Cúpula.
Belém 4X
Durante a Cúpula, também foi apresentado o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, conhecido como “Belém 4x”, lançado na Pre-COP, no dia 14 de outubro. A iniciativa busca fomentar a cooperação internacional para, no mínimo, quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, por meio da implementação de políticas existentes ou anunciadas. Até o momento, o compromisso foi endossado por 19 países.
Até o momento, o "Belém 4X" foi endossado por 19 países: Armênia, Belarus, Brasil, Canadá, Chile, Guatemala, Guiné, Índia, Itália, Japão, Maldivas, México, Moçambique, Myanmar, Países Baixos, Panamá, República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Sudão e Zâmbia. A variedade e a ampla distribuição geográfica do grupo daqueles que já se associaram demonstram a relevância dos combustíveis sustentáveis para a transição energética e o combate à mudança do clima nas mais diversas partes do planeta. A iniciativa, co-patrocinada por Brasil, Itália e Japão, permanecerá aberta a novas adesões.
O embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e chefe da delegação negociadora brasileira, apontou a satisfação com o número de apoios recebidos até o momento ao Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis – Belém 4x. "Compromissos como este vão ganhando tração ao longo do tempo", afirmou.
"Por isso, 19 endossos até o momento são um excelente resultado. E a variedade, sobretudo, é o testemunho de que estamos no rumo certo e de que a causa reverbera no mundo inteiro: o grupo que já formalizou apoio ao compromisso 'Belém 4x' reúne países ricos, em desenvolvimento, pequenos, grandes, de todo o planeta. É, felizmente, um grupo diverso de países", disse o embaixador.
Pobreza energética
Atualmente, cerca de 2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar, segundo relatório das Nações Unidas, dado lembrado por Lula durante a sessão temática. Para o presidente, enquanto não forem enfrentadas as injustiças das dívidas externas e abandonadas as condicionalidades que discriminam os países em desenvolvimento, a sociedade continuará “andando em círculos”.
“Cerca de 660 milhões de pessoas ainda dependem de lamparinas ou geradores a diesel nas periferias das grandes cidades e em comunidades rurais da América Latina, da África e da Ásia. Além disso, 200 milhões de crianças estudam em escolas sem acesso à eletricidade”, destacou o presidente.
Lula afirmou que uma transição energética justa, ordenada e equitativa exige garantir acesso a tecnologias e financiamento para os países do Sul Global.
Compromissos
Durante seu discurso, o presidente apresentou três compromissos centrais para impulsionar a transição energética. O primeiro é a implementação do Acordo de Dubai, que prevê triplicar a geração de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030. Lula também propôs colocar a eliminação da pobreza energética no centro do debate e incluir metas de cocção limpa e de acesso universal à eletricidade nos planos climáticos nacionais. Por fim, o presidente defendeu a importância de aderir ao Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis.
“Nesta COP, os negociadores devem buscar o entendimento. E nós, líderes, devemos decidir se o século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente”, concluiu Lula.
O tema também foi abordado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que enfatizou a necessidade de alinhar leis, políticas e incentivos a uma transição energética justa e eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis. Para ele, é preciso colocar pessoas e a equidade no centro da transição. “Apoiar os trabalhadores e as comunidades cujos meios de subsistência ainda dependem do carvão, do petróleo e do gás”.
