100 dias para Belém: preparativos para COP30 entram na reta final com foco em acelerar nova década de implementação climática
Às vésperas da COP30, Brasil intensifica esforços para transformar Belém no epicentro de uma década decisiva na luta global contra as mudanças climáticas

De Presidência da COP30
A mobilização do Brasil para receber a COP30 está em marcha a 100 dias da conferência do clima da ONU, que será realizada de 10 a 21 de novembro em Belém, no Pará. Os últimos meses foram de progresso intenso no mutirão global convocado pela Presidência da COP30 para acelerar o combate à crise climática e reforçar o regime multilateral do clima.
A proposta de uma governança pela inclusão apresentada em março na primeira das quatro cartas do presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago, reflete-se no trabalho coordenado dos círculos, enviados especiais e conselhos. Os esforços também avançam nos quatro pilares — negociação, agenda de ação, mobilização e cúpula de líderes — que sustentam os trabalhos da conferência do clima.
“Desde o início da preparação para a COP30, o Brasil deixou claro que sua prioridade máxima é fortalecer o multilateralismo e garantir que todos entendam que, quando se trata de mudança do clima, não há caminho que não seja coletivo. Este momento exige aprofundar nossa confiança e crença no poder do multilateralismo”, afirmou o presidente designado da COP30, André Corrêa do Lago.
Nesse processo, a Presidência também se dedicou a estruturar um ambiente de cooperação, confiança e inovação para que a COP30 se consolide como plataforma catalisadora de soluções e marque uma virada decisiva na década da implementação climática.
Círculos, enviados e conselhos
Em junho, foi realizado em Londres o primeiro de seis diálogos regionais do Balanço Ético Global, promovendo escutas coletivas e reflexões sobre dilemas morais da crise climática. As conclusões serão apresentadas em relatórios, obras artísticas e vídeos na COP30. Outros diálogos já estão programados e serão realizados nos próximos dois meses em Bogotá, Colômbia; Nova Délhi, Índia; Addis Ababa, Etiópia; Nova York, EUA; e em cidade a ser confirmada na Oceania.
Já no Círculo dos Ministros de Finanças, representantes de 35 países debatem temas como acesso a fundos climáticos, reforma de bancos multilaterais, plataforma de países e regulação financeira. O último encontro ocorreu em junho, com previsão de outras sessões nos próximos meses. Em setembro, o grupo preparará subsídios finais para a Presidência da COP30, documentos que servirão como um dos insumos para o relatório com o Mapa do Caminho para US$ 1,3 trilhão em financiamento climático para países em desenvolvimento até 2035, que os presidentes da COP29 e COP30 apresentarão em Belém.
O Círculo de Ex-Presidentes de COPs discute a governança climática e formas de aprimorar os mecanismos de implementação do Acordo de Paris — incluindo temas como o papel de organismos multilaterais, o futuro da Agenda de Ação e financiamento. Composto por presidentes das últimas dez COPs, o grupo reuniu-se em junho, e há previsão de ao menos mais duas reuniões.
Liderado pela ministra Sonia Guajajara, o Círculo de Povos é formado pela Comissão Internacional Indígena e pela Comissão de Comunidades Tradicionais, Afrodescendentes e Agricultores Familiares. Há reuniões híbridas mensais, e os grupos se organizam para realizar oficinas temáticas em Belém. Este Círculo é essencial para ampliar a participação no processo da COP30 e assegurar que a conferência do clima seja um ambiente mais inclusivo e transparente, estabelecendo um modelo inclusivo que poderá inspirar futuras conferências.
A Presidência da COP30 inovou ainda ao anunciar enviados especiais regionais e setoriais, que atuam como caixas de ressonância da Presidência da COP30 e facilitam o fluxo de informações e percepções das áreas que representam. Os enviados já participaram de dezenas de eventos, atuaram em suas comunidades, auxiliam no processo de mobilização e são pontos de contato com seus setores e regiões. Houve uma série de encontros individuais e coletivos com a Presidência da COP30, com outros previstos até Belém.
Os três conselhos da Presidência da COP30 — economistas, científico e IA e inovação — também se reúnem periodicamente para debater ideias e sugestões de apoio em assuntos centrais para a conferência. Um quarto conselho, focado em adaptação, foi recentemente formado e terá sua reunião inaugural na primeira semana de agosto.
"A estrutura que construímos para a Presidência da COP30 reflete os desafios e oportunidades que enfrentamos 10 anos após o Acordo de Paris. Uma Presidência da COP mais colaborativa, mais inclusiva, mais representativa e mais conectada a realidades das pessoas. Os círculos, conselhos e enviados especiais são fundamentais para romper silos, alinhar agendas e transformar complexidade em ação. Acima de tudo, esse mutirão é um esforço para mudar a maneira como o mundo colabora para enfrentar a crise climática. Nos próximos 100 dias, nosso foco é consolidar essas contribuições em soluções concretas e resultados robustos de negociação, prontos para fazer da COP30 uma plataforma de implementação e ação coletiva", disse a CEO da COP30, Ana Toni.
Quatro pilares de atuação
Os últimos meses tiveram também avanços significativos nas consultas de negociação. A reunião de Bonn terminou com progresso em temas-chave para o sucesso da COP30. Os negociadores conseguiram elaborar praticamente todos os textos previstos, cujos colchetes e opções seguem para o debate em Belém. Entre os temas que avançaram, prioridades como indicadores globais de adaptação, transição justa e o Diálogo do Balanço Global do Acordo de Paris.
A Agenda de Ação, lançada em Bonn, já começou as reuniões dos grupos de ativação para seus seis eixos e 30 objetivos. Centenas de empresas, governos subnacionais, organizações internacionais, associações já trabalham juntas em soluções para a acelerar a implementação do Balanço Global, que serão apresentadas em Belém.
A COP30 tem trabalhado para aproximar a Agenda de Ação das negociações formais, reconhecendo que a implementação depende de uma articulação concreta entre os compromissos assumidos pelos Estados e as soluções lideradas por atores não estatais. A conferência busca catalisar a fase da implementação ao oferecer uma plataforma organizada, transparente e orientada a resultados, em que o setor privado e outros agentes da sociedade podem contribuir com inovação, investimentos e liderança. Esta abordagem visa transformar a ambição em progresso mensurável, conectando a resposta climática global à vida real das pessoas, à geração de empregos, e ao fortalecimento de economias sustentáveis.
A implementação da Agenda de Ação é realizada em parceria com o Campeão de Alto Nível da COP30, Dan Ioschpe. Empresário e membro de conselhos de empresas comprometidas com a transição justa, Ioschpe é um dos elos entre a Presidência e o setor privado, entre outros grupos.
Marcele Oliveira, Campeã da Juventude lidera a mobilização de jovens, crianças e grupos comunitários, entre outros, no mutirão global contra a mudança do clima. O pilar da mobilização inclui também ativações em datas-chave, como o Dia Mundial Sem Carro e o Dia de Limpeza das Praias. Há ainda apoio à organização de Balanços Éticos autogestionados, às COPs infantis e, respondendo a chamado da Presidência da COP30, COPs dos biomas brasileiros, organizadas por consórcios de governadores.
Próximos 100 dias
Nos próximos 100 dias, a prioridade da Presidência da COP30 é ampliar as consultas com os países e grupos negociadores, além da preparação para a pré-COP, em 13 e 14 de outubro. Outras prioridades até novembro incluem:
Reunião de ministros de Meio Ambiente da América Latina e do Caribe, organizada pelo México em agosto, para debater a participação da região na COP30;
Cúpula de Líderes para discutir Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, e pelo presidente Lula durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro;
Encontro da Associação de Nações do Sudeste Asiático, na Malásia, em outubro;
Engajamento em semanas do clima realizadas pelo mundo, como a organizada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas em Addis Ababa, e em diversas cidades e regiões do Brasil;
Visitas e reuniões bilaterais.
Esta mobilização tem o objetivo de engajar governos federais, governos subnacionais, setor privado e sociedade civil para viabilizar avanços significativos e concretos na implementação do Acordo de Paris através da negociação. Também busca avançar planos de aceleração de soluções liderados pelo setor privado e governos subnacionais.
Mais do que preparar uma conferência, os próximos 100 dias serão dedicados a alavancar ainda mais o ambiente para a implementação climática — consolidando alianças, destravando soluções e construindo pontes entre o político e o prático. Há oportunidades concretas mobilizadas especialmente nas agendas de Adaptação, Florestas e Finanças, com destaque para os avanços já obtidos com o Tropical Forest Forever Facility (TFFF), que está abrindo novas perspectivas para proteger biomas tropicais com escala, previsibilidade e eficácia. A Presidência da COP30 continuará a impulsionar esse mutirão global com foco na entrega: ações que conectem ambição com justiça, e resultados com impacto duradouro.