Em evento de Al Gore, Corrêa do Lago defende incorporação de políticas contra mudança do clima na economia
O embaixador frisou que o desafio agora é desmantelar a desinformação em torno do tema e recorrer ao multilateralismo para fortalecer ações de desenvolvimento sustentável, enquanto o ex-vice-presidente norte americano elogiou a criação do Balanço Ético Global pela presidência brasileira na COP30

Por Maiva D’Auria | COP30
“O novo desafio é que há alguns esforços afirmando que, se a economia incorporar a preocupação climática, isso será ruim para a economia. O que não é verdade”, apontou o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, na sexta-feira (15), durante o evento The Climate Reality Project, no Rio de Janeiro (RJ), encabeçado pelo ambientalista Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e vencedor do Prêmio Nobel da Paz.
O embaixador enfatizou que a inclusão de mecanismos que levem em consideração o combate à mudança climática no orçamento é fundamental para o desenvolvimento das nações. “Nós temos que divulgar muito mais os exemplos positivos que mostram que isso é bom para a economia, bom para o emprego, bom para a qualidade de vida. Esse é um grande esforço que teremos que fazer nos próximos dois meses antes da COP”, reforçou.
O presidente da COP30 defendeu o fortalecimento do multilateralismo como forma de viabilizar os esforços na construção de economias sustentáveis, com a participação de organizações financeiras neste processo. “Temos que ir além da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e do Acordo de Paris para fazer a implementação [das ações acordadas]. Precisamos do Banco Mundial, de todos os outros bancos de desenvolvimento, de todas as instituições, trabalhando juntos para colocar o clima como pauta essencial em todos os temas, porque o clima está em todos os lugares”, enfatizou.
O evento foi realizado entre os dias 15 e 17 de agosto, com o objetivo de mobilizar lideranças e fortalecer a pressão por ações climáticas concretas.
Outro tema endereçado na discussão foi a transição energética, que consiste na redução do uso de fontes não renováveis de energia, como petróleo, carvão e gás natural - responsáveis pela emissão de grandes quantidades de gases de efeito estufa - para priorizar as fontes limpas e renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica. Corrêa do Lago afirmou que o assunto já está na agenda de ação da COP30 como uma das pautas prioritárias, que precisam de implementação e novas soluções. Ele destacou que esse enfrentamento é coletivo e demanda recursos financeiros.
“Nós sabemos que resolver problemas climáticos envolve muitas mudanças na economia, e precisamos discutir juntos o que é construtivo para todos os países, e criar mecanismos para que essas alianças funcionem bem”, disse. “Aqui no Brasil nós já fizemos o mais difícil, que é ter 95% da nossa energia renovável”, completou o embaixador.

Círculos de liderança
No debate, Al Gore elogiou a liderança brasileira na COP30 e sublinhou o ineditismo do Balanço Ético Global. “Estou muito impressionado que, sob a liderança de Marina Silva, o Brasil tenha inovado com o Balanço Ético Global. Tivemos 29 COPs e ninguém antes havia abordado os problemas éticos”, ressaltou.
André Corrêa do Lago explicou que a iniciativa integra um total de quatro círculos de lideranças, que contribuem para debates sobre financiamento climático, ampliação da voz de povos indígenas e comunidades tradicionais, reflexão sobre a governança climática e mobilização em torno de uma nova ética global.

Hospedagem
A preocupação quanto às hospedagens em Belém para a COP30 também esteve na pauta. O presidente da conferência garantiu a viabilidade do evento.
“Posso assegurar que isso está sendo tratado e que haverá lugares com preços razoáveis em Belém. É lá que vamos construir, juntos, o mundo em que queremos viver”, concluiu Corrêa do Lago.