Soluções para preparar os trabalhadores para a transição justa é tema de debate em Londres
Em evento que congregou especialistas e autoridades internacionais a mensagem foi clara: não haverá transição sem justiça social e sem garantir que as pessoas estejam preparadas para participar ativamente da nova economia

Por Franciéli Barcellos de Moraes | COP30
Quais os caminhos para uma nova economia, que não seja apenas sustentável do ponto de vista ambiental, mas também justa para os trabalhadores, com as pessoas no centro do processo? Esta foi a questão guia do debate "Empregos e Habilidades para uma Nova Economia: Construindo uma Agenda de Ação", em que a presidência da COP30, na figura da CEO Ana Toni, participou, nesta terça-feira, 25/6. Ela reforçou a importância de se colocar a criação de empregos verdes e a capacitação no centro das Contribuições Nacionalmente Determinadas (na sigla em inglês, NDCs).
"Precisamos reconhecer que, neste momento, essa discussão ainda é restrita. Poucas pessoas estão falando sobre esse tema ou sabem o que são empregos verdes. Mostrar essas pessoas, esses trabalhadores, é essencial. Garantir que eles tenham voz, que possam falar", colocou Ana Toni, que complementou indicando que é necessário quebrar com a ideia de que "empregos verdes são coisa de elite". A CEO, por fim, relembrou uma fala recente de Lula, presidente do Brasil, de que "se não levarmos a transição climática para os nossos trabalhadores, não estamos falando da economia do futuro".
No escopo das atividades da Semana de Ação Climática de Londres, no Reino Unido, especialistas, representantes de governos, organizações não governamentais (ONGs), setor privado e instituições internacionais debateram a inclusão qualitativa dos trabalhadores, formais e informais, pode como parte das soluções para a economia verde. Os especialistas entendem que, embora setores como energia, transportes e agricultura estejam engajados em definir metas para a redução das emissões, pouco se fala sobre quem irá executá-las. O apontamento foi de que a falta de um "líder" institucional para a pauta da qualificação profissionalmente revela um vazio de governança a ser superado.
Nos destaques, também esteve o papel essencial do setor privado e o apontamento de que uma transição verde não ocorre isoladamente, mas está entrelaçada a forças como as tensões geopolíticas, o crescimento demográfico e a revolução tecnológica. E, por isso, pensar a COP30 ponto de partida para compromissos concretos e ações continuadas, e não como um fim, é fundamental.
Demais contribuições
Efrem Bycer, diretor de Parcerias para Clima e Força de Trabalho do LinkedIn, destacou que apenas um em cada seis trabalhadores no mundo possui competências profissionais relacionadas à sustentabilidade, como gestão de carbono ou energia renovável, segundo dados do LinkedIn Green Skills Report, apresentado para orientar os debates. De acordo com Bycer, a demanda por essas habilidades, medida em vagas que exigem conhecimentos ambientais, cresce duas vezes mais rápido que a oferta de profissionais qualificados. "Isso representa oportunidades, mas também o risco de não atendermos às necessidades do mercado", alertou Bycer.
O relatório revela ainda que o setor financeiro tem a menor concentração de trabalhadores com "habilidades verdes", mesmo com papel fundamental para viabilizar a transição ecológica. "Se não capacitarmos esse setor, não desbloquearemos os 1,3 trilhão de dólares necessários anualmente para combater a mudança do clima", afirmou.
A diretora-executiva da Systemiq, Liesbet Steer, criticou a ausência de estratégias intencionais para capacitar trabalhadores na transição verde. "Os países planejam a descarbonização, mas ignoram os impactos no mercado de trabalho. Precisamos de sistemas de dados robustos para prever demandas de habilidades e evitar crises", destacou.
Liesbet também indicou que, embora exista a necessidade, o financiamento atual é insuficiente para dar conta da urgência. "O clima recebe verbas para infraestrutura física, mas o capital humano fica para trás". A saída, para Steer, é envolver o setor privado em modelos de financiamento misto, já que empresas serão as maiores beneficiárias da mão de obra qualificada.
Caminhos sugeridos:
Intencionalidade em políticas e governança — Incorporar as necessidades de qualificação e mercado de trabalho nas políticas climáticas e industriais, com maior coordenação entre governos e setores.
Inovação em programas de qualificação e ajuste social — Expandir modelos de aprendizado baseados no trabalho e na comunidade, modernizar currículos e adotar tecnologias que tornem os programas mais acessíveis e eficazes.
Investimento em pessoas — Mobilizar recursos financeiros, criar incentivos e envolver o setor privado no financiamento da requalificação profissional.
Semana de Londres
A Semana de Ação Climática de Londres (em inglês, London Climate Action Week – LCAW) é uma iniciativa anual que reúne diversos atores globais — incluindo governos, empresas, organizações não governamentais (ONGs), instituições acadêmicas e a sociedade civil — com o objetivo de impulsionar soluções práticas e colaborativas para a crise do clima.
A agenda, uma das maiores na pauta de clima no calendário internacional, acontece, neste ano, de 21 a 29 de junho, e é mais um evento, mesmo que não integre o calendário oficial da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (na sigla em inglês, UNFCCC) de qualificação dos debates no tema pré COP30.