FLORESTAS

Fundo Florestas Tropicais para Sempre consolida apoio internacional e se posiciona como novo modelo global de financiamento climático

Durante Semana de Ação Climática de Londres, iniciativa liderada pelo Brasil para a COP30 mobiliza apoio de países, instituições financeiras, lideranças indígenas e organizações da sociedade civil

Fundo é um mecanismo inovador para proporcionar aos países com florestas tropicais pagamentos em larga escala, previsíveis e baseados em desempenho — Foto: Fernando Donasci / MMA
Fundo é um mecanismo inovador para proporcionar aos países com florestas tropicais pagamentos em larga escala, previsíveis e baseados em desempenho — Foto: Fernando Donasci / MMA

Por Ministério do Meio Ambiente

Durante a Semana de Ação Climática em Londres, que ocorreu de 19 a 21 de junho, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) avançou de forma estratégica em seu objetivo de criar um novo mecanismo para a conservação das florestas tropicais do planeta. O TFFF é pauta prioritária em termos de financiamento para a presidência da COP30, Conferência do Clima da ONU que ocorre em Belém (PA) em novembro.

Por meio de uma série de painéis de alto nível, reuniões bilaterais e anúncios colaborativos, o TFFF fortaleceu suas parcerias globais, destacou o papel que pode desempenhar na mobilização de financiamento de longo prazo — tão necessário para as políticas públicas ambientais – e reafirmou seu papel de articulação entre os setores público e privado em prol do clima e da biodiversidade.

O TFFF foi apresentado pelo governo brasileiro durante a COP28, em Dubai, como um mecanismo inovador para proporcionar aos países com florestas tropicais pagamentos em larga escala, previsíveis e baseados em desempenho, com o objetivo de manter e ampliar a cobertura florestal – oferecendo incentivos positivos alinhados ao planejamento fiscal nacional. Sua entrega está prevista para a COP30.

Nesta semana, em Londres, países que podem ser apoiadores do TFFF – como Reino Unido, Noruega e Emirados Árabes Unidos – e nações detentores de florestas tropicais potencialmente elegíveis para receber pagamentos por área conservada – como Colômbia, Peru, República Democrática do Congo, Indonésia e Gana – expressaram publicamente interesse e apoio à iniciativa. 

O TFFF também recebeu apoio do setor privado – incluindo da Pimco (uma das maiores gestoras de títulos do mundo), Bank of America e Barclays –, organizações da sociedade civil e instituições multilaterais, como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).  Além disso, lideranças indígenas conheceram a inclusão dos povos indígenas no desenho do funcionamento do mecanismo.

"Uma das minhas primeiras viagens como ministro de Energia e Mudança Climática foi ao Brasil, especificamente à Amazônia, porque reconheci o quanto esse ecossistema – e as florestas tropicais de forma mais ampla – são cruciais para todos nós. Por isso, é empolgante ver surgir uma nova iniciativa – a brilhante proposta brasileira, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre. Acreditamos que ela representa uma solução ousada, inspiradora e extremamente promissora para o futuro, e estamos muito satisfeitos em colaborar com o governo do Brasil nessa iniciativa. O TFFF oferece uma oportunidade para que o Norte e o Sul globais trabalhem juntos, como uma coalizão de esperançosos e determinados, em um mundo repleto de dúvidas e incertezas”, afirmou Ed Miliband, Secretário de Estado para Energia e Mudança Climática do Reino Unido.

Para Andreas Bjelland Eriksen, ministro do Clima e do Meio Ambiente da Noruega, "o TFFF tem o potencial de transformar a forma como financiamos a proteção das florestas tropicais. Para que tenha sucesso, é fundamental que conte com salvaguardas ambientais e sociais robustas, amplo apoio dos países com florestas tropicais e dos povos indígenas, além de financiamento comprometido tanto de doadores tradicionais quanto de novos parceiros. A Noruega está considerando fazer uma contribuição, e encorajamos outros a fazerem o mesmo”.

Países com grandes áreas de florestas também se manifestaram sobre o TFFF durante o evento em Londres, um dos principais foros de discussão sobre o combate global à mudança do clima.

"A Indonésia acredita que o futuro do nosso planeta está profundamente enraizado na saúde de suas florestas. Nesse contexto, vemos o TFFF não apenas como uma iniciativa liderada pelo Brasil, mas como uma oportunidade transformadora para todos os países com florestas tropicais — uma plataforma para avançar em inovação, equidade e ambição nas soluções globais para o clima”, disse Haruni Krisnawati, assessora sênior do ministro para o tema de mudanças climáticas do Ministério das Florestas da República da Indonésia.

O professor Joseph Malassi, assessor climático do ministro do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável da República Democrática do Congo, afirmou que seu país apoia "fortemente a iniciativa do governo brasileiro de estabelecer o TFFF, que vemos como uma resposta transformadora e oportuna às lacunas persistentes que os países da Bacia do Congo vêm destacando em diversos fóruns internacionais. Conclamamos parceiros bilaterais, multilaterais e privados a trabalharem conosco para garantir que o TFFF seja plenamente capitalizado, transparente, acessível e equitativo. As florestas tropicais não podem esperar; o futuro das nossas florestas deve ser tratado com a urgência e a solidariedade necessárias.”

Christian Stracke, presidente da PIMCO, parabenizou os membros do grupo de trabalho do TFFF por seus esforços ambiciosos em prol da preservação das florestas. “Saudamos o TFFF como um modelo inovador, com potencial de escala e autossuficiência. Este mecanismo inclusivo pode mobilizar capital privado em larga escala, ao mesmo tempo em que ajuda a mitigar riscos econômicos associados à perda de biodiversidade e à degradação florestal”.

A Aliança Global de Comunidades Territoriais (GATC, na sigla em inglês) disse ver "o TFFF como mais do que um simples mecanismo de financiamento — trata-se de uma oportunidade para ampliar o debate sobre o que o financiamento direto para os povos indígenas e as comunidades locais pode e deve ser. Ao colocar no centro as vozes dos guardiões da natureza como parceiros e coautores do processo, o TFFF representa uma chance de reconhecer nossa demanda histórica por financiamento direto, estabelecendo um novo padrão para outros mecanismos financeiros globais”.

Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, também participou da Semana de Ação Climática — Foto: Fernando Donasci / MMA
Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, também participou da Semana de Ação Climática — Foto: Fernando Donasci / MMA

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, que esteve presente na Semana de Ação Climática de Londres e realizou uma série de reuniões com foco no instrumento, afirmou que "o TFFF é um mecanismo robusto e inovador de investimento público e privado, que direciona recursos diretamente para quem conserva as florestas – garantindo, pelo menos, 20% para povos indígenas e comunidades locais. Mobilizará capital em larga escala com fluxos perenes para preservar nossa biodiversidade. À medida que nos aproximamos da COP30, precisamos da ousadia para criar um novo pacto entre clima e floresta, ajudando a criar um novo ciclo de prosperidade, com coragem e capacidade disruptiva para mudar — antes que sejamos abruptamente mudados pelas adversidades climáticas”.

Também presente nos debates sobre o TFFF em Londres, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, disse que sua pasta vai "continuar trabalhando, de forma conjunta entre governo e organizações indígenas, no engajamento dos países para construir o TFFF e para que Povos Indígenas e Comunidades Locais recebam o mínimo de 20% dos aportes levantados, porque já está constatado que apenas 1% de todos os recursos que são tradicionalmente mobilizados para a mudança do clima chega aos territórios indígenas. Assim, vejo o TFFF como um mecanismo inovador e estrutural”.

Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)

O modelo de financiamento do TFFF combina investimento público com captação de recursos no mercado privado, com o objetivo de mobilizar cerca de US$ 4 bilhões por ano, a serem distribuídos entre os países com florestas tropicais. Os países só receberão pagamentos proporcionais a sua área de floresta tropical e subtropical úmida conservada— e após verificação por imagens de satélite que confirmem níveis de desmatamento abaixo de um limite definido. Haverá deduções para cada hectare desmatado ou degradado.

Esse valor representa de três a quatro vezes os orçamentos discricionários dos Ministérios do Meio Ambiente dos principais países florestais — e dezenas ou até centenas de vezes mais do que o que é atualmente pago pelo mercado voluntário de carbono. Em outras palavras, o TFFF pode ter um impacto transformador sobre as políticas nacionais de conservação florestal.

O TFFF se diferencia dos modelos tradicionais por diversos elementos-chave. Funciona como um fundo de investimento gerador de receita, e não como um mecanismo baseado em doações; paga por resultados, em vez de financiar projetos; recompensa florestas em pé, em vez de compensar pelo desmatamento evitado; e mantém diálogo próximo com as populações indígenas e povos e comunidades tradicionais, que desempenham papel direto na proteção das florestas. O mecanismo propõe destinar pelo menos 20% dos pagamentos nacionais a essas populações.

As florestas tropicais regulam o clima global, abrigam biodiversidade insubstituível, fornecem água doce e sustentam os meios de vida de bilhões de pessoas. A sobrevivência da humanidade depende delas. O TFFF oferece uma oportunidade transformadora de ampliar significativamente o apoio financeiro aos países com florestas tropicais.