Em Londres, Balanço Ético Global tem seu primeiro diálogo autogestionado
Encontro conduzido por organizações da sociedade civil iniciou processo de mobilização global que discutirá o imperativo ético de se enfrentar a mudança do clima

De MMA | Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
Durante a Semana de Ação Climática de Londres, no Reino Unido, aconteceu o primeiro diálogo autogestionado do Balanço Ético Global (BEG), um dos temas chave para a COP30, a Conferência do Clima da ONU que acontece em Belém (PA) em novembro.
Liderado pelo presidente Luíz Inácio Lula da Silva e pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, o BEG tem como cerne o imperativo ético do enfrentamento à mudança do clima, com a proposta de que ele se reflita nas negociações climáticas da COP30. A iniciativa ocorrerá a partir de Diálogos Regionais a serem realizados até outubro em diferentes continentes — o primeiro, representando a Europa, na última semana, também em Londres — e de Diálogos Autogestionados, que serão promovidos por organizações da sociedade civil e governos nacionais e subnacionais, seguindo a mesma metodologia e princípios do processo central.
O objetivo é que, em paralelo aos diálogos oficiais, os encontros auto-organizados se repliquem pelo mundo e criem uma onda de estímulo à ação climática para frear o aumento médio da temperatura da Terra a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais e implementar os acordos firmados na última década, desde a assinatura do Acordo de Paris.
O primeiro Diálogo Autogestionado do BEG foi liderado pela ex-presidente da Irlanda e coorganizadora do Diálogo Europeu do BEG, Mary Robinson. Reuniu cerca de 40 pessoas, entre lideranças políticas, indígenas e religiosas, ativistas e representantes da sociedade civil. Estiveram presentes também a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; a diretora-executiva da COP30, Ana Toni, e a Campeã de Juventude da conferência, Marcele Oliveira.
O evento ocorreu na sede do Centro de Reconciliação e Paz de St. Ethelburga, antigamente uma igreja que, em 1994, sofreu ataque do Exército Republicano Irlandês (conhecido como IRA). Foi conduzido pelo próprio Centro de Reconciliação e Paz de St. Ethelburga junto à organização Project Dandelion, comandada por mulheres que trabalham pela justiça climática, e Women, Faith and Climate Network, que reúne lideranças de diversas religiões com o objetivo comum de combater a mudança do clima.
A partir de reflexões conjuntas, criou-se uma atmosfera acolhedora e sensível que permitiu aos participantes compartilharem suas diferentes perspectivas sobre a urgência de enfrentar as causas e impactos da crise climática, que já atinge a todos os países e exacerba desigualdades de classe, gênero e raça.
Em sua fala, Marina destacou a necessidade de posicionar a ética no centro do debate climático. "Enquanto assistia às apresentações, fiquei pensando: como seria bom se nossos negociadores pudessem ver o que foi apresentado aqui: palavras como amor, solidariedade, compromissos e responsabilidade com o que é decidido", pontuou. "Que este Balanço Ético e todos nós possamos ser uma espécie de oração para que o mundo se comprometa a proteger a vida e as condições em que ela foi gerada".
Para Ana Toni, o "Balanço Ético Global é a alma da COP30, e precisamos mostrar a todos que ela está aqui". "Estamos numa fase em que todos agem de maneira lógica e tática e não nos permitimos sentir", afirmou. "Nós, negociadores, políticos, mães, seres humanos, precisamos mudar. Espero que a COP30 atinja muitas coisas nas negociações — temos que fazê-lo. Mas, acima de tudo, se conseguirmos tocar as pessoas e levar a elas o sentimento que experimentamos aqui, acho que mobilizaremos bilhões de pessoas. Se não agora, muito em breve".
"Minha esperança é que os seis diálogos formais — um em cada continente — gerem centenas de outros diálogos auto-organizados, para trazer uma onda de opinião pública à COP30”, afirmou Mary Robinson "Somos gratos pela liderança de Marina Silva na proposta destes Balanços Éticos Globais e encorajo todos a levarem este trabalho adiante, reunindo comunidades de todas as esferas da vida, somando suas vozes a este importante processo".
Transformação ecológica
O objetivo é que as discussões levantadas nos Diálogos Regionais e Autogestionados contribuam para alinhar o arcabouço e os processos de negociação do calendário oficial da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) à missão urgente de implementar os acordos climáticos firmados na última década.
Sobretudo, das decisões reunidas no Consenso dos Emirados Árabes Unidos, lastreadas no primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, realizado na COP28 em Dubai. Por meio dele, 196 países concordaram em alinhar ações para não ultrapassar a meta de 1,5ºC. As principais medidas pactuadas são triplicar a capacidade das energias renováveis, dobrar sua eficiência energética e promover a transição justa e planejada para o fim do uso de combustíveis fósseis e do desmatamento.
No coração da iniciativa, está a percepção de que nenhuma solução técnica pode ser verdadeiramente eficaz sem uma mudança de comportamentos e trajetórias coletivas. O Balanço Ético Global busca incentivar o fortalecimento de valores culturais que orientem para a transformação ecológica, necessária para o futuro da humanidade no planeta frente à crise climática.
A iniciativa culminará em seis relatórios regionais e um relatório-síntese a ser entregue a chefes de Estado e negociadores durante a Pré-COP, em outubro. Os resultados do processo também estarão refletidos em um espaço físico na conferência em Belém.