COP30 mostrará territórios indígenas como parte do combate à crise climática
A presidência brasileira da COP30, com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, lançou o Círculo dos Povos Indígenas para incentivar a liderança dos povos originários no assunto. O evento aconteceu durante o Acampamento Terra Livre.

Por Mayara Souto | mayara.souto@presidencia.gov.br
A presidência brasileira da COP30 e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) lançaram nesta quinta-feira, 10/4, o Círculo dos Povos Indígenas no Acampamento Terra Livre, em Brasília - maior mobilização indígena do Brasil, com participação de etnias de países vizinhos. Esse foi o primeiro círculo divulgado pela presidência, que ainda apresentará outros em áreas-chaves da Conferência.
“O Círculo dos Povos Indígenas é fundamental para ter uma ligação direta entre a presidência da COP e os povos indígenas. Então, quero dizer que as portas da presidência da COP e do governo brasileiro estão absolutamente abertas aos povos indígenas para a gente fazer dessa COP a primeira em que os povos indígenas têm o papel principal de liderar o combate à mudança do clima”, declarou a CEO e diretora-executiva da COP30, Ana Toni.
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, também marcou presença no evento. “É uma emoção absolutamente enorme estar aqui perto de vocês. Vocês dão uma dimensão ao Brasil que só me enche de orgulho. Vocês nos inspiram, inspiram o mundo e essa COP vai abraçar vocês e vocês tem que abraçar essa COP”, disse.
Já a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, atentou para o compromisso de diminuir o desmatamento e falou da importância da nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil.
“Um esforço está sendo feito para que a COP30 aconteça em um ambiente que seja compatível com o compromisso que temos. O presidente Lula tem um compromisso de desmatamento zero até 2030 e tem o compromisso de que vamos ter uma NDC de 67% de redução de emissão de CO2 para todos os setores, agricultura, indústria, transporte, energia. Mas, isso, não é algo que é feito pelo governo, é feito pela força transformadora de um povo”, disse a ministra.
“Quero agradecer aos povos indígenas porque eles nos ensinam a como lidar com os recursos naturais sem destruir a floresta, a biodiversidade, os rios, os peixes e tudo que a natureza nos oferece”, acrescentou.

Protagonismo indígena
Na ocasião, também foi divulgada a criação da Comissão Internacional Indígena, que terá representação de organizações indígenas internacionais e brasileiras. Essa iniciativa será liderada pelo Ministério dos Povos Indígenas, através da ministra Sonia Guajajara, que também estará à frente do círculo temático da COP30.
“A mensagem principal nessa COP é mostrar o papel dos territórios indígenas como a parte principal do combate à crise climática. Nós temos um governo que tem hoje a sensibilidade de entender que os povos indígenas têm que estar no centro dessas decisões em relação às discussões climáticas porque nós, povos indígenas, agregamos às discussões de direitos humanos, cultura, sustentabilidade, biodiversidade, clima e de meio ambiente”, frisou Guajajara.
A ministra comentou ainda que os grupos indígenas terão participação do Fórum Permanente sobre Questões Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU), do Caucus Indígena, além da Plataforma de Povos Indígenas e Comunidades Locais, da Aliança Global dos Povos Indígenas para os Direitos e o Desenvolvimento, da representação da Bacia Amazônia e também do movimento indígena brasilerio - através da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA) e Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
A COP30 deverá incluir os indígenas em diversos espaços de negociações e participação social, segundo a ministra Sonia Guajajara. “Teremos indígenas em diversos espaços de debate, os que estarão participando, diretamente, na zona verde, junto com a Cúpula dos Povos, que o movimento está articulando. Teremos os indígenas credenciados na zona oficial e teremos os que estarão participando com os negociadoras”, afirmou durante o evento.
Participação social
O lançamento das iniciativas durante o Acampamento Terra Livre foi uma escolha da presidência da COP30, para valorizar os diversos atores que são essenciais no combate à mudança do clima. O evento reúne lideranças indígenas de todas as regiões brasileiras e de outros países, como é o caso de Maryta de Humahuaca, da Argentina.
“Nós já estamos há muito tempo falando do cuidado do planeta e essa crise do clima que estamos vivendo. O que é meu desejo e da minha comunidade é que as pessoas entendam que o planeta somos todos nós e que a gente tem tanto o coração batendo no nosso corpo, quanto o coração da Pachamama (Mãe Terra), na terra. A gente está ligado desde que nasceu. O que a gente tem vontade que aconteça é essa união dos povos. Não podemos ficar com limites, temos que estar unidos”, defendeu a ativista.
Shirlei Arara, da Terra Indígena de Ji Paraná, em Rondônia, exemplifica curiosidade para o compartilhamento de conhecimento e experiências que podem ocorrer durante a COP30.
“Os indígenas do Canadá, por exemplo, a gente acaba ouvindo muito que lá os indígenas têm uma riqueza grandiosa por conta da mineração sustentável. Então, é importante essa participação deles, para a gente, de fato, ouvir deles, se isso é verdade ou não”, comenta.
A liderança do povo Karo Arara diz também o que espera da COP30.
“Queremos que todos os que estiverem lá entendam que a resposta somos nós. Todo mundo fala do planeta, da floresta, da água, das mudanças do clima, mas todo mundo esquece que quem mantém vivo o planeta são os guardiões da floresta. Então, nessa COP, o que a gente mais precisa é que as pessoas compreendam, entendam, e reconheçam a importância que é a vida dos povos indígenas para o planeta. E não queremos outros falando de nós, esperamos que nós mesmos possamos falar sobre nós, a nossa terra e a nossa floresta”, defendeu.
“A gente já sofre dentro dos nossos territórios com falta de água. A gente assiste dentro do nosso território os rios, de onde a gente tirava a nossa alimentação e nosso sustento, não terem água. E não ter água é não ter vida. É algo desesperador. Estamos em alarme 24 horas. Também nossa mata pegando fogo, nosso plantio sendo devastado, escassez de caça. Nosso povo vem sofrendo muito”, acrescentou ainda Shirlei Arara.
Dario Baniwa, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro também nota os efeitos na natureza. “Há alguns impactos acarretados pela mudança do clima, principalmente, no processo de produção da roça, pois muda o calendário, muda o processo. O período que se produz a roça hoje altera e isso acaba gerando insegurança alimentar e falta de tratamento de saúde. Isso tem acarretado sérios desafios para a gente, principalmente, para as mulheres que trabalham na roça”, lamentou.
“Creio que as comunidades podem ensinar como preservar. Elas fazem os nossos cultivos, a agricultura, vivendo simplesmente da natureza e acho que isso tem muito a agregar na sociedade, de que a gente pode viver na natureza e conseguir mitigar as mudanças do clima”, reflete Mayte Fontes Ambrósio, da etnia Piratapuia, de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.

Diplomacia indígena
A presidente do Fórum Permanente Indígena da ONU, Hindou Oumarou Ibrahim, apontou para o caminho que acredita ser necessário trilhar na COP30 para a inclusão e participação indígena.
“Só vamos conseguir sucesso se a gente seguir adiante com os países desenvolvidos e em desenvolvimento para que possamos mostrar para eles que não podemos passar da meta de 1,5ºC, nós temos que cuidar do nosso planeta. E não podemos seguir em frente com esse objetivo, se não houver financiamento para nós, povos indígenas. Nós somos as pessoas que protegem as nossas floresta”, disse a liderança indígena internacional.
“Sempre fomos os maiores diplomatas do mundo, sabemos dialogar com pessoas de diversos locais e é por isso que a COP30 tem que usar a nossa diplomacia indígena para que a gente possa alcançar o nosso objetivo”, acrescentou ainda a presidente do Fórum Permanente Indígena da ONU. O evento que prepara as prioridades indígenas para a COP ocorrerá no final deste mês, em Nova York, e será também palco do lançamento oficial da Comissão Internacional Indígena.
Por parte da presidência brasileira da COP30, o lançamento do Círculo dos Povos Indígenas e da Comissão Internacional Indígena é uma sinalização do reconhecimento da de que as comunidades e territórios indígenas contribuem para a mitigação dos efeitos das mudanças do clima e devem integrar projetos de adaptação.