BOLETIM COP30

Boletim COP30 #10 - Crise do clima afeta preços dos alimentos no supermercado

Especialistas destacam que a mudança do clima afeta o preço dos principais alimentos dos brasileiros. COP30 é a oportunidade de encontrar saídas para o cenário que tende a piorar com impactos inflacionários cada vez mais intensos. Ouça e saiba mais.

Repórter: Liane Caroline dos Santos é balconista em uma loja de variedades em Brasília. Na sua visão, a inflação dos alimentos está fora do normal. A percepção de Liane pode ser comprovada por dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Em 2024, a inflação fechou em  4,83%, e, em 2023, tinha ficado em  4,62%, de acordo com o IBGE. 

Liane Caroline: Antes era bem mais barato agora a inflação tá fora do normal, coisa de mercado, para mim, é o que tá mais caro, o que tá mais pegando é isso. Você vai no mercado para fazer uma compra, você gasta um absurdo e volta com uma sacolinha na mão. Café, a carne, arroz, um monte de coisa mesmo que a pessoa se alimenta todos os dias. Troquei algumas marcas e tô fazendo bastante economia.

Repórter: Segundo o professor Gustavo Baptista, do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília, o ano de 2024 foi o mais quente já registrado, com uma temperatura de 1,6 grau acima da média do período pré-industrial. E dados sobre o clima têm demonstrado que existe pouca água armazenada nos solos atualmente. Com a temperatura do meio ambiente aumentando, há a evaporação da água armazenada no solo e nas plantas e, com isso, a dificuldade para irrigar a terra e manter as plantas hidratadas. Esse processo prejudica as safras de alimentos como o café e o cacau, elevando os preços destes produtos no mercado. O estudioso cita que há dois anos a arroba do cacau (cerca de 15 kg) custava em torno de 200 reais. Hoje, sai por quase mil reais. O professor defende o uso de alternativas mais sustentáveis para produzir alimentos, como Sistemas Agroflorestais.

Gustavo Baptista: As pessoas têm que ter acesso ao consumo, até porque se elas não consomem, a economia entra em colapso. Não adianta você tentar reverter um processo de desmatamento de degradação se você não cria uma alternativa para o indivíduo sobreviver. E essa alternativa gera mais recursos, mais commodities agrícolas e isso tende a baixar o preço dos alimentos. Então, ou a gente se movimenta e faz acontecer a partir dessas discussões extremamente importantes, como a COP 30, que vai ocorrer em novembro desse ano em Belém, ou a gente caminha para uma situação bem complicada.

Repórter: Guilherme Mello, Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do Brasil, concorda que é preciso se adaptar à nova realidade. O que exige investimento, novas tecnologias e instrumentos de financiamento para incentivar uma transformação ecológica. Ele falou sobre vários programas do governo, como o Eco Invest, que visa atrair investimento estrangeiro para financiar projetos de desenvolvimento sustentável. Além de mecanismos de mitigação e adaptação à mudança do clima dentro do Plano Safra.

Guilherme Mello: Negar as mudanças climáticas, não fará com que as mudanças climáticas deixem de ocorrer. Elas já estão afetando o clima do planeta, a produtividade das lavouras, a vida de milhões de pessoas no mundo, cada vez mais nós vemos isso, chuvas torrenciais, secas prolongadas, isso obviamente afeta a qualidade e a produtividade das lavouras. Então, a COP é o ambiente em que isso é reconhecido e o mundo discute as maneiras mais eficientes de se minimizar as perdas que já estão ocorrendo devido às mudanças climáticas. E também é muito importante que os produtores rurais compreendam essa nova realidade e se preparem para ela. Então, se eu sou um produtor rural que vive numa área que recorrentemente tá sofrendo, por exemplo, com secas, é muito importante que eu invista num sistema de de irrigação, na melhoria da qualidade do meu solo, porque é isso que vai me garantir uma certa proteção, uma certa resiliência contra as mudanças climáticas.

Repórter: O secretário acredita que a COP 30 será um encontro muito importante onde o mundo poderá discutir as maneiras mais eficientes de enfrentar esse processo. De acordo com o secretário, os países têm de estar preparados para se adaptar e criar instrumentos adequados para garantir alimentos e água para as pessoas. Da redação da  COP 30, Thayara Martins.