Presidência da COP30 ambiciona transformar encontro na Alemanha em marco de confiança e ação pelo clima
A 62ª reunião dos Órgãos Subsidiários da ONU acontecerá em junho, na Alemanha, e será plataforma para o Brasil estabelecer as bases políticas e técnicas para COP30 em Belém (PA)

Por Franciéli Barcellos de Moraes / francieli.moraes@presidencia.gov.br
Com o foco em restabelecer a convicção internacional e acelerar a ação climática global, a Presidência da 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) já tem nítidas suas prioridades para a 62ª reunião dos Órgãos Subsidiários da ONU (SB62), que ocorrerá em Bonn, na Alemanha, de 16 a 26 de junho deste ano.
Nestes dez dias na antiga capital da Alemanha Ocidental (1949 a 1990), a presidência da COP30 irá encabeçar ao menos uma dezena de eventos, além de compor, com protagonismo, as demais plenárias e agendas de negociação. A ambição brasileira é, a partir da tradição diplomática nacional, de cordialidade, diálogo e cooperação, usar essa etapa de forma estratégica à recuperação da credibilidade no processo multilateral e chegar a deliberações de ações afetivas.
"O que queremos em Bonn é restaurar o nível de confiança nas negociações. Isso é realmente importante. Acho que esse é um dos temas centrais. E, em segundo lugar, imprimir esse senso de urgência — fazer com que Bonn reflita a urgência da mudança do clima, a crise, e convoque à ação conjunta", colocou Ana Toni, CEO da COP30.
A declaração vai ao encontro do exposto pelo presidente da Conferência, o embaixador André Corrêa do Lago, em sua terceira carta, divulgada na última sexta-feira (23), endereçada em especial aos negociadores do clima. "A verdadeira medida de sucesso do SB62 não estará na tática, mas na nossa capacidade coletiva de comunicar avanços significativos às pessoas que servimos. A abstração do nosso trabalho precisa começar a repercutir na experiência concreta. A legitimidade virá da relevância no mundo real e da entrega de resultados", colocou ele no documento.
"A verdadeira medida de sucesso do SB62 não estará na tática, mas na nossa capacidade coletiva de comunicar avanços significativos às pessoas que servimos. A abstração do nosso trabalho precisa começar a repercutir na experiência concreta. A legitimidade virá da relevância no mundo real e da entrega de resultados"
A reunião, composta pelo SBSTA (assessoria científica e tecnológica) e pelo SBI (responsável pela implementação de acordos), é um encontro anual realizado na cidade alemã, onde estão sediadas 18 agências das Nações Unidas, entre elas o secretariado da UNFCCC.
Apesar de menos visível ao público do que as COPs, o encontro em Bonn tem papel central no calendário climático da ONU. Como primeiro espaço formal de negociações sobre o tema no ano, essa reunião prepara técnica e politicamente o caminho para a próxima Conferência das Partes, neste caso, a COP30, a ser realizada em novembro na cidade de Belém, capital do estado do Pará.
Três prioridades interconectadas
Na carta, a presidência destaca três frentes principais que devem orientar os trabalhos em Bonn: fortalecer o multilateralismo e o regime climático da UNFCCC; conectar as decisões climáticas à vida concreta das pessoas; e acelerar a implementação do Acordo de Paris por meio de ações estruturais.
Com o "Livro de Regras" (conjunto de diretrizes) do Acordo de Paris finalizado na COP29, Baku, no Azerbaijão, o desafio agora é transformar os compromissos em resultados tangíveis. Para isso, o Brasil convida todos os negociadores a atuarem como "co-construtores" desse novo momento. A aposta é em uma postura colaborativa, empática e centrada na entrega, buscando superar o padrão de impasses e repetições que muitas vezes marcam essas reuniões.
Um "dia zero": para resultados distintos, começar diferente
Para fomentar um novo ambiente de diálogo, a presidência propõe um "dia zero" de conversas informais entre os Chefes de Delegação, antes mesmo da abertura oficial. A ideia é estabelecer desde o início um tom mais construtivo, que favoreça escuta mútua, trocas substanciais e maior ambição.
Serão especialmente priorizados os indicadores do Objetivo Global de Adaptação no âmbito do Programa de Trabalho Emirados Árabes Unidos–Belém, o Diálogo dos Emirados sobre a implementação dos resultados do primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, e o Programa de Trabalho de Transição Justa. Informações adicionais sobre este dia introdutório serão comunicadas às Partes pelo secretariado em momento oportuno..
Neste período preparatório, o Brasil já trabalha de forma próxima à presidência da COP29 e aos líderes dos órgãos subsidiários, com apoio do secretariado da UNFCCC.