ENVIADOS SETORIAIS

Enviados setoriais da COP30 fortalecem Mutirão Global e selam pacto por ação climática integrada

Reunião no Palácio do Planalto (DF) junto à Presidência da COP30 marcou o início da atuação conjunta dos representantes voluntários em uma agenda que alia escuta ativa, diversidade de pautas e construção coletiva no caminho para a Conferência em novembro

Reunião foi o primeiro contato formal entre a Presidência da Conferência e o conjunto de representantes - Foto: Rafael Medelima/COP30
Reunião foi o primeiro contato formal entre a Presidência da Conferência e o conjunto de representantes - Foto: Rafael Medelima/COP30

Por Franciéli Barcellos de Moraes / francieli.moraes@presidencia.gov.br

Diversidade e capilaridade junto aos múltiplos segmentos da sociedade civil, reforçando valores de cidadania e qualificando os debates temáticos. Este pode ser um resumo do papel que os 22 enviados especiais setoriais da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) cumprem junto à Presidência do evento, com quem, nesta sexta-feira (23), reuniram-se no Palácio do Planalto (DF), sede do Poder Executivo Federal.

A reunião não representou apenas o primeiro contato formal entre a Presidência da Conferência e os representantes setoriais — fortalecendo a transparência e a confiança no processo —, mas, sobretudo, um espaço de escuta ativa das demandas sociais e de articulação das pautas, ampliando as possibilidades de ação. Tanto o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, quanto a CEO, Ana Toni, avaliaram o encontro de forma extremamente positiva.

"O ambiente foi ainda muito melhor do que a gente imaginava e realmente nós estamos aí com um time de sonho para apoiar a Presidência Brasileira na preparação da COP30", enfatizou o embaixador, o qual foi complementado pela colega. "Essa reunião superou em muito as minhas expectativas. Foi muito interessante ver, além da qualidade dos enviados especiais, o espírito de mutirão que eles já estão exercendo agora nessa função", disse Ana Toni.

Encontro também operou como espaço de troca horizontal entre os enviados - Foto: Rafael Medelima / COP30
Encontro também operou como espaço de troca horizontal entre os enviados - Foto: Rafael Medelima / COP30

"Eles são, eu diria, a concretização do Mutirão Global. Mostram que esse movimento é realmente um caminho que todos nós podemos fazer, porque se você não é parte da solução, você é parte do problema, e acho que todos os setores aqui representados mostram não só que são partes da solução, mas que podem fazer ainda mais”, conclui a CEO.

Uma vez que, majoritariamente, as questões cruzam as setoriais, o encontro também operou como espaço de troca horizontal entre os enviados, os quais atuam voluntariamente e em caráter pessoal, como porta-vozes gerais dos temas, e não de organizações específicas. Transição justa aos trabalhadores (Energia, Sindicatos e Setor Empresarial), pagamento por serviços ecossistêmicos (Bioeconomia, Florestas e Povos Indígenas) e/ou enfrentamento ao racismo ambiental em contexto urbano (Direitos Humanos, Igualdade racial e periferias e Soluções urbanas) são apenas alguns exemplos.  

Algo que o presidente da COP30 endossa. “Foi muito interessante que criou-se uma vontade imensa de entendimento entre setores. Concordamos que são muitas bolhas, e que nós temos que furar as bolhas, temos que juntar as bolhas para termos algo coletivo. Essa é a ideia essencial do Mutirão, todo mundo fazendo aquilo que sabe fazer, trabalhar junto pelo coletivo”, disse ele ao fim do encontro. 

Concordamos que são muitas bolhas, e que nós temos que furar as bolhas, temos que juntar as bolhas para termos algo coletivo. Essa é a ideia essencial do Mutirão, todo mundo fazendo aquilo que sabe fazer, trabalhar junto pelo coletivo

A reunião acontece uma semana após o anúncio dos nomes, que podem ser conferidos na íntegra, junto a uma descrição de seu perfil e setor de atuação.

O que falam os enviados

Jurema Werneck, enviada de Igualdade Racial e Periferias, dá ênfase à importância de que a participação da negritude seja concreta, e não apenas uma menção vaga em documentos oficiais. “As demandas são antigas e continuam sendo urgentes: que se leve a sério o que significa racismo ambiental. Isso envolve o reconhecimento das “zonas de sacrifício” racial, onde já estão ocorrendo mortes — por calor extremo, por chuvas intensas, por insegurança alimentar, entre outros efeitos da crise climática.”, enfatiza a diretora executiva da Anistia Internacional.

Philip Yang,  enviado de Soluções Urbanas, destaca que pensar nas cidades, ao lado do pensar nas florestas, é essencial para que as melhores e mais rápidas soluções de enfrentamento à mudança do clima sejam encontradas. “É importantíssimo debater cidades, porque elas guardam os maiores atalhos para a redução de gases de efeito estufa. Para você ter uma ideia, 80% do consumo de energia do mundo ocorre em cidades e 80% das emissões de gases de efeito estufa também acontecem nas áreas urbanas. Ou seja, existe uma série de caminhos diretos que podem ser explorados para que essa redução ocorra de forma mais eficaz”, diz o empreendedor e ativista.

Sinéia do Vale, enviada de Povos Indígenas, frisa que os territórios indígenas são os mais preservados não só do Brasil, mas também do mundo, e defende que o direito dos povos indígenas precisa ser garantido em todos os âmbitos da COP. “O principal tema dos povos indígenas para a COP30 — a COP que será na Amazônia e que vai ser a maior COP a receber povos indígenas de toda a América Latina — é a garantia do território como enfrentamento à mudança do clima”, finaliza Sinéia, líder indígena da etnia Wapichana.

Janja Lula da Silva, enviada de Mulheres, destacou que a questão de gênero deve ser pensada em transversalidade as demais setoriais, e que as mulheres amazônidas devem ter maior protagonismo. “Sempre falo sobre como a mudança do clima afeta mais duramente a vida das mulheres, mas venho refletindo, o que estamos realmente fazendo para transformar a vida dessas mulheres, principalmente no Sul Global, nos territórios mais periféricos, que são os mais atingidos? Devemos entender que essa questão é transversal”, disse a socióloga e primeira-dama do país.

Mutirão Global e um modelo de governança participativa

Ao traduzirem os desafios globais para realidades locais e garantirem uma via de mão dupla na circulação de informações, como interlocutores diretos entre a Presidência da COP30 e diversos setores sociais, esses representantes tornam-se peças-chave aos trabalhos sobre mudança do clima. A expectativa é que, com maior participação social, o alcance dos debates climáticos seja elevado e, por consequência, as metas climáticas tenham mais chances de serem compreendidas, apoiadas e efetivamente implementadas.

Mais um passo no âmbito do Mutirão Global, que é iniciativa que busca desencadear um movimento com estrutura mundial com valorização de ações locais. Em um espírito comum de contribuições coletivas, imediatas e autônomas, são convidados a participar desta construção, governos subnacionais, setor privado, setor financeiro, movimentos sociais, indivíduos, entre outros.

O Mutirão vai ao encontro da forma de condução brasileira em outros espaços internacionais, como a presidência do G20 no último ano e do BRICS neste, em que um modelo de governança mais participativa vem sendo defendido como ferramenta ao fortalecimento do multilateralismo, elemento fundamental para efetividade de ações de adaptação e mitigação à mudança do clima, que precisam ser acordadas e realizadas em nível global. 

Além dos enviados, que formam um grupo permanente de troca de ideias, experiências e sugestões, também compõem o quadro em prol do Mutirão Global quatro Círculos de Liderança: Balanço Ético Global, Círculo de Ministros de Finanças, Círculo de Povos e Círculo de Presidentes, os quais trabalharão em frentes e produtos específicos de apoio à Presidência da COP30.